Dormir para esquecer a fome
Mães de Japeri, na Baixada Fluminense, relatam suas lutas para criar os filhos em meio à pobreza, ao desemprego e aos confrontos diários entre facções de traficantes
"O pai dela, alcoólatra, teve vários ofícios. “Lembro dos dias sem comida na casa de meus pais. Minha mãe punha a gente pra dormir para a fome passar, porque a fome dá sonolência. Isso durou até eu ficar grande. Aos 14 anos, fui morar com minha avó, porque faltava comida na casa da minha mãe”, disse.
Sônia se casou aos 19 anos, contra a vontade da avó, e repetiu o drama vivido pela mãe. O marido vivia de biscates e frequentemente ficava sem trabalho. Ela fazia faxinas para colocar alguma comida na mesa. Mas era insuficiente. “Muitas vezes coloquei meus filhos para dormir para esquecer a fome, como minha mãe fazia.”
Ela lembra que o marido ficava nervoso quando estava desempregado e não havia o que comer, e descarregava a ira espancando-a. “Eu tentava consolar ele, mas ele me batia muito, muito. Batia como se estivesse dando em um homem. Até grávida eu apanhava. Tive meu primeiro filho aos 20 anos. Aos 30, já tinha seis.”
reportagem de Elvira Lobato
Dormir para esquecer a fome - Agência Pública