PAQUETÁ VAI FICAR MAIS ILHADO

Quem vive fora de Paquetá não faz ideia do drama que estamos vivendo aqui - alguns podem ter lido/visto noticias sobre a polêmica das barcas mas não tem noção de como isto afetará a vida da população local.

Vou citar um exemplo escolar para tentar passar uma dimensão da coisa. Antes, o contexto.

1. Paquetá é um bairro no Rio de Janeiro, mas por ser uma ilha (que como sabem é algo cercado de água por todos os lados) tem como ÚNICO acesso de transporte regular as barcas administradas pelo Grupo CCR (as barcas são da CCR mas compradas com dinheiro público).

2. Esta CCR, sem aviso prévio, ou consulta à população, e aproveitando o recesso entre Natal e Ano Novo, decidiu alterar o esquema dessas barcas.

Cortou horários, mexeu em outros.... Nos fins de semana, quando há um aporte grande de turistas à ilha (o principal motor economico da ilha é o turismo) as 12 viagens diárias passaram a ser apenas seis.

E unificou as linhas de Paquetá e Cocotá, ou seja, para ir ou voltar de Paquetá será preciso passar (e parar) antes na Ilha do Governador. A viagem que era de 40 minutos passará para 100 minutos (além da superlotação em alguns horários por juntar dois grupos de usuários).

Então tomemos como exemplo uma criança que mora em Paquetá e estuda no Rio. Ela terá que sair de casa às 4:30 para pegar uma barca que a deixe na Praça XV logo antes das 7:00 (se não tiver atrasos, que são constantes nas barcas da CCR).

Terá de 15 a 20 minutos para chegar na escola e pegar a primeira aula. Se a escola não for perto da Praça XV, passará a perder todas as primeiras aulas dos dias escolares.

Quando acabar as aulas, vai ficar zanzando pelas ruas até sair a próxima barca, que será às 13:40. Ou ficar esperando na estação, que só tem poucos bancos de cimento (muitos aguardam em pé ou no chão), sem ar condicionado, wifi e nem tomada para carregar um celular (detalhes de qualquer terminal moderno).

Quem sai das aulas às 11:00, por exemplo, vai ter que fazer hora por 2:40 até sair alguma barca (o que envolve dinheiro para almoçar e tal). Vai chegar de volta em casa, finalmente, por volta de 15:40.

O aluno sai de casa às 4:30 e volta às 15:40.

Por que então não estuda em Paquetá, no seu próprio bairro? Aqui tem boas escolas , mas do ensino fundamental. Chega um ponto em que o estudante passa a ter que estudar no continente.

Quer dizer, há um curso noturno de ensino médio, mas que - a ser mantida essa mudança nas barcas -, vai acabar, pois os professores - quase todos do Rio - não teriam como chegar a tempo para a curso e muito menos voltarem para suas casas (a última barca, que saía à meia-noite, foi alterada).

Esse exemplo se repete em vários setores de Paquetá: os professores diurnos que não conseguirão chegar. , os profissionais de saude que não poderão vir, pessoas que trabalham no Rio que não chegarão a tempo nos empregos, gente que faz tratamento médico, remoção de doentes e acidentados que agora ficarão mais uma hora navegando, etc. etc

Uma atitude insensívei, cruel e indiferente para com a população toda de um bairro,

em prol de uma chantagem que um grupo economico está promovendo para conseguir verbas do Governo do Estado -

governo, aliás, totalmente omisso e que nada faz para minorar essa situação.