Decapitações expõem o Brasil

"Não sei quais crimes cometeram os 16 seres humanos decapitados em uma rebelião em Altamira, no Pará, que deixou 57 mortos. Difícil saber, dado o elevado número de presos no Brasil ainda sem julgamento e esquecidos nas celas sem acesso a advogados de defesa. E, mesmo que fossem assassinos e estupradores, não haviam sido condenados à morte. Esta pena não está prevista na Constituição brasileira.
A indignação no Brasil, no entanto, foi morna. É o fenômeno da normalização. O impacto talvez tenha ficado aquém até mesmo de episódios similares em séries de TV. A decapitação da personagem Missandei por ordem de Cersei nas muralhas de King’s Landing, capital de Westeros, o continente fictício da série “Game of Thrones”, causou enorme comoção entre brasileiros no dia 5 de maio. A forma como ela foi morta provocou indignação nas redes sociais, algo pouco visto após Altamira.
Sei que alguns dirão que, no Pará, eram bandidos matando bandidos. Ainda assim, a decapitação de 16 prisioneiros seria algo impensável em democracias europeias, no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia e nos Estados Unidos. Autoridades precisariam prestar esclarecimentos. Estes prisioneiros estão sob responsabilidade do Estado, e este deve garantir sua segurança."
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