O novo canto do exílio: a carta comovente de Anderson França

"Escrever esse texto, anos depois, é como voltar para o mesmo ponto, o momento em que a Light cortava a minha luz. Só que agora eu estou num bairro chamado Ramada, uma região fora do distrito de Lisboa. Eu brinco dizendo que Ramada é a Nova Iguaçu daqui.
Tudo fica longe. Todo mundo aqui é quieto, fala pouco. Eu não conheço os vizinhos, ninguém senta na calçada. Num frio de 10 graus, não tem criança na rua empinando pipa. Tem nem sol direito. Aqui, duas da tarde se parece com 9 da manhã de um inverno em São Paulo. Aquele sol que sai, mas devagar. Diferente do sol que nasce em Cascadura, que já chega cantando Alcione. Meus dias, há dois meses e meio, tem sido explicar como vim parar aqui.
No dia 28 de outubro, com a vitória dos milicianos na Zona Norte do Rio, porque é isso que Bolsonaro e Witzel representam, eu decidi com a minha esposa que nosso tempo no Brasil tinha acabado. Perdemos a favela. Perdemos o povo. A favela votou em Bolsonaro. A esquerda abandonou a favela. Tudo está perdido. Por todos os lados."
LEIA O DEPOIMENTO DE ANDERSON FRANÇA