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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    sexta-feira, dezembro 28, 2018

    Fora de hora e lugar




    A truculência verbal, a provocação aos adversários e o escárnio do infortúnio alheio não combinam como o tempo natalino. Nem são próprios para um presidente eleito às vésperas da posse, quando se tornará, de fato, presidente de todos os brasileiros. Se houvesse intenção pacificadora, o momento era propício. Jair Bolsonaro, entretanto, age como rei raivoso na véspera da coroação, disparando mensagens polêmicas e beligerantes. Com elas,alimenta não apenas a polarização interna mas também a percepção externa negativa sobre o futuro governo, a exemplo da carta distribuída nos Estados Unidos por 47 organizações da sociedade civil americana, afirmando que ele representa “séria ameaça à democracia, aos direitos humanos e ao meio ambiente”.
    A carta, que está publicada no site da organização Friends of the Earth U.S., é subscrita por esta e outras entidades como a Brazilian Studies Association e a Amazon Watch e recorda o “discurso de ódio” do presidente eleito contra negros, gays e mulheres. Lembra as ameaças recentes de mandar adversários de esquerda para a prisão ou o exílio, de tratar movimentos sociais como terroristas. “Além desses repulsivos ataques verbais, nós estamos particularmente preocupados com algumas propostas políticas de Bolsonaro que, se implementadas, podem infligir danos de amplo alcance e duradouros a comunidades brasileiras e ao meio ambiente”, diz o texto. 
    Hoje, com a popularidade alta, Bolsonaro pode não se incomodar com a rejeição externa nem como a existência de uma parcela de brasileiros que não votou nele. Devia saber que, nesta Terra dos Papagaios, não existe base social fiel por ideologia. Quando os benefícios propiciados por um governo cessam, os eleitores viram-lhe as costas. O PT que o diga.
    Agora o governo vai começar, haverá uma trégua de uns cem dias e depois virá o tempo das cobranças. Um presidente em começo de mandato deve esforçar-se para prolongar o período de indulgência, em que os próprios adversários baixam as armas. Também por isso, a aspereza verbal neste momento é contra-indicada. Ou seria, se Bolsonaro fosse um político normal.
    Durante o Natal ele escarneceu do ex-presidente Lula, replicando no Twitter uma charge do site “Falha de S. Paulo”: “Lula tenta escapar vestido de Papai Noel mas é detido”. Sua mulher Michele fez marketing opressivo contra Lula, ao aparecer usando camiseta com a frase que a juíza Hardt lhe disse no último depoimento: “se começar neste tom comigo a gente vai ter problemas”. Irritado com uma matéria do jornal cubano Granma com críticas ao futuro governo, escreveu que “não convidar seu ditador foi mais um de meus acertos”. Seus filhos mantiveram também a mesma toada. Pessoas tão próximas de assumir o poder deviam estar mais felizes e desarmadas. Mas parecem estar anunciando o início de uma guerra e não de um governo com tantos desafios pela frente.

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