Aqui a gente chama de que?

de RODRIGO MONDEGO

Dois homens invadem um conjunto habitacional em Maricá, abordam 5 jovens, entre 16 e 19 anos, que voltaram de uma festa organizada pelo movimento estudantil da cidade, mandam todos deitarem no chão, dão um tiro na cabeça de cada um e depois saem gritando: "Aqui é milícia e vamos voltar".
Em qualquer sociedade sadia do mundo isso não aconteceria, mas se acontecesse, o questionamento seria de quem são os assassinos, mas no Brasil de hoje não, o questionamento é sobre a vida pregressa dos jovens.

Mesmo que todos os mortos fossem moradores do local com suas respectivas famílias, mesmo que absolutamente ninguém já os tivesse visto com armas, mesmo que todos os mortos fossem conhecidos por construírem um projeto social de hip-hop na localidade, o questionamento é sobre eles, para que de alguma forma se ache algo que justifique suas mortes.

Mesmo que o território do condomínio não seja ocupado pelo tráfico e a milícia há anos queira entrar, mesmo que a milícia queira entrar naquele território para ganhar dinheiro extorquindo moradores e comerciantes, mesmo que os assassinatos tenham sido extremamente cruéis, a identificação dos criminosos fica em segundo plano para que se foque na vida pregressa dos jovens mortos.
É a barbárie imperando em uma época de Estado de exceção. O pior de tudo, é que tudo isso acontece com um significativo apoio popular, assim como aconteceu na Itália no início do século passado. Lá eles chamaram de fascismo, aqui a gente chama de que ?