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    segunda-feira, dezembro 04, 2017

    A tropa dos confrontos


    Apenas 20 policiais militares se envolveram em 10% das mortes em confronto entre 2010 e 2015

    Montagem fotográfica Foto: Editoria de Arte

     Era quase meia-noite quando o cobrador de ônibus Alexandre Mendonça Marinho passou pela Avenida Automóvel Clube, em Belford Roxo, município de 470 mil habitantes na Baixada Fluminense. Estava indo para casa depois de um dia normal de trabalho: fez cinco viagens na linha 638 (Marechal Hermes-Saens Peña), todas contabilizadas numa guia de serviço da Auto Viação Três Amigos. O documento, de 14 de julho de 2014, mostra que a jornada de Alexandre começou às 13h05m e se estendeu até as 22h30m. No entanto, num outro documento, registrado quatro horas depois na delegacia da região, o cobrador aparece num papel diferente: o de um homem que morreu com um tiro de fuzil nas costas durante um confronto entre bandidos e policiais militares.
    A morte de Alexandre foi uma das 3.442 classificadas, entre 2010 e 2015, como “homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial” — também conhecidos como autos de resistência."

    — Alexandre estava de uniforme e com documentos do trabalho. Quando cheguei ao hospital, tudo havia sumido — afirmou uma parente, que pediu anonimato.

    A família levou documentos e testemunhas à delegacia, mas, aos olhos da lei, Alexandre ainda é considerado criminoso: o inquérito sobre o caso segue classificado como morte em confronto com a polícia.

    Para chegar aos nomes dos PMs que mais se envolveram em mortes entre 2010 e 2015, o GLOBO teve de enfrentar a falta de transparência do estado. O governo não disponibilizou 37 documentos solicitados por meio da Lei de Acesso à Informação. A Subsecretaria de Gestão Estratégica da Secretaria de Segurança alegou que os registros de ocorrências (ROs) foram classificados como secretos, devendo ficar sob sigilo por 15 anos. Isso significa que um auto de resistência de 2017 só se tornará público em 2032. O motivo alegado pelo órgão: “preservar a imagem” dos policiais.

    Apesar de especialistas em Direito consultados pela equipe de reportagem terem dito que ROs são documentos públicos, o acesso a 16 foram negados, sob a justificativa de que tratam de dados sigilosos. Os outros 21 requerimentos estão sem respostas até hoje"


    mais na reportagem de Fabio Teixeira e Igor Mello​

    A tropa dos confrontos - Jornal O Globo

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