O ponto de encontro da dor

"Acostumado a subir em poucos minutos o Morro da Providência, vencendo com agilidade os becos onde foi criado, Robson Moreira de Lima, de 21 anos, desceu num instante os dois lances de escada que separam sua casa da Rua Barão de Gamboa. Havia passado a noite em claro e dormido até o começo da tarde. Antes de sair para encontrar sua turma, almoçou e viu televisão deitado no sofá da sala. Quando chegou ao portão, observado por sua mãe e pelo pitbull Rat, ouviu dela uma bênção diferente. “Que Nossa Senhora te cubra com seu manto”, gritou do alto da escada a senhora, que rezava para o caçula voltar a trabalhar com o pai, mestre de obras.

Naquela mesma tarde, a 50 quilômetros dali, André Luiz Vaz Nonato, de 40 anos, saiu de casa, na Estrada Rio do Ouro, em Xerém, rumo à sede do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Laranjeiras. Deixou sobre uma mesa livros e projetos da faculdade de arquitetura, que ele cursava há dois anos na Unigranrio, em Duque de Caxias, onde nasceu. Paraquedista do Exército antes de entrar na Polícia Militar, planejava pedir baixa da corporação assim que pegasse o diploma. Estava cansado de tanta violência. Três dias antes, ao receber uma visita de sua mãe, confessou uma angústia. “Preciso muito conversar com a senhora”, disse, prometendo visitá-la no Dia das Mães. Ela rezara em vão para o filho não passar no concurso da PM. Agora, pedia a Deus que ele trocasse a farda pelo uniforme do Inmetro, onde o marido fez carreira."

leia reportagem de Caio Barretto Briso​



O ponto de encontro da dor - Jornal O Globo:



fotos de Daniel Marenco