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    sexta-feira, janeiro 20, 2017

    Mil homens com lanças se matando

    As imagens são brutais, antigas, de séculos: milhares de miseráveis encerrados em sua ratoeira

     


    "Há várias horas, mais de 1.000 presos da penitenciária de Alcaçuz, em Natal, tentam matar uns aos outros à base de mordidas. O acaso midiático quis que essa penitenciária se encontrasse cercada por uma colina de onde as redes de televisão conseguem um bom ângulo de visão, focando o interior, o pátio da prisão, o campo de batalha. As imagens são brutais, antigas, de séculos atrás: 1.000 miseráveis trancados em sua ratoeira, divididos em duas facções, perseguindo uns aos outros dentro do presídio fechado, sob os olhares do país inteiro. Nas esquinas estratégicas da cadeia (mas sempre do lado de fora), alguns policiais atiram de vez em quando com balas de borracha, em uma tentativa — inútil — de conter a sangria, interromper a batalha.

    Ao fundo, o mar azul-turquesa do trópico, a luz do sol que explode em cheio sobre as paredes dos edifícios frágeis da penitenciária, cheias de pichações dos dois bandos, o vento quente que vem do sul movendo as bandeiras das duas facções, improvisadas com lençóis. Eu gostaria de perguntar a um desses presos por que ele está em um dos lados da barricada e não do outro. Em que o sujeito que ele acabou de tentar matar com uma lança se diferencia dele. Sei que um pertence ao Primeiro Comando da Capital, grupo mafioso de São Paulo, e o outro ao Sindicato do Crime, uma cisão do primeiro. Mas isso é uma forma de não responder, de não responder de verdade."


    mais no texto de Antonio Jimenez Barca

    Mil homens com lanças se matando | Opinião | EL PAÍS Brasil:

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