Trinta e uma e a hiena
de Luis Pimentel
TRINTA E UMA E A HIENA
Contam e dão conta de que havia trinta homens e uma mulher (moça? menina?). A polícia, o padre, o poste e o paradoxo confirmaram, outros negaram, câmeras filmaram na manhã escura que amortecia a noite na Zona Oeste de uma cidade no faroeste das pragas.
Trinta homens contra uma mulher, sobre uma moça, dentro de uma menina. O pranto da manhã jorrando no espelho e nos hematomas que saltavam das páginas do jornal. Os reflexos do baile, o coro "rasga os sonhos, rasga ela, rasga o coração" que descia do bater de asas dos urubus misturando-se à carniça, as cobras no cio, formigas dançando no ventre.
Dizem que provocou, que mereceu, que desgraçou-se a desgraçada e nem sentiu dor. Dizem tanto que turvam a nuvem que o espasmo mandou para lavar o colchão. Mas como traduzir diante das culpas, dos guinchos e relinchos, o sorriso arrogante daquela hiena?