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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    quinta-feira, junho 30, 2016

    “Quem furta pouco é ladrão . Quem furta muito é barão.

    O historiador Laurentino Gomes relembra a corrupção no Brasil desde D. João VI:


    A presidente Dilma Roussef acaba de fazer uma declaração
    surpreendente a respeito da história da corrupção no Brasil.
    Segundo ela, empreiteiras e políticos flagrados na chamada
    Operação Lava Jato, da Polícia Federal, não teriam roubado tanto
    dinheiro da Petrobrás se lá atrás, nos Anos 90, o governo
    Fernando Henrique Cardoso tivesse iniciado investigações para
    apurar desvios na estatal. No entender da presidente, em vez de
    punir de forma exemplar as empresas corruptoras, o melhor
    agora é fazer um acordo para que elas continuem funcionando,
    de modo a preservar empregos e assegurar o crescimento da
    economia.

    Em outras palavras: para que revirar lama nova se já existe muito
    lodo depositado no fundo deste vasto e escuro pântano chamado
    Brasil?

    Eu tenho uma proposta melhor: que tal investigar os casos de
    corrupção durante o governo do rei Dom João VI no Brasil? Lá se
    vão mais de duzentos anos e, até agora, ninguém foi punido.
    Mãos à obra, portanto. Hora de botar a Polícia Federal, o
    Ministério Público, a Tribunal de Contas da União, a Advocacia
    Geral da União e todos os demais recursos que o país tiver
    disponíveis para punir os corruptos do Brasil Joanino. Evidências
    é que não faltam. As denúncias são tantas que renderam dois
    capítulos inteiros no meu livro “1808”.

    O regime de toma-lá-dá-cá que se estabeleceu no Brasil depois
    da chegada da família real de Dom João, em 1808, foi escabroso.
    Na opinião do historiador Manuel de Oliveira Lima, os treze anos
    de permanência da corte portuguesa no Rio de Janeiro foram
    um dos períodos de maior corrupção na história brasileira – com
    a ressalva de que Oliveira Lima morreu há quase cem anos e
    não teve a oportunidade avaliar o que aconteceu depois disso.
    “A corrupção medrava escandalosa e tanto contribuía para
    aumentar as despesas, como contribuía o contrabando para
    diminuir as rendas”, escreveu o historiador pernambucano.
    Uma herança da época de Dom João é a prática da “caixinha”
    nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos. Oliveira
    Lima, citando os relatos do inglês John Luccock, diz que
    cobrava-se uma comissão de 17% sobre todos os pagamentos
    ou saques no tesouro público. Era uma forma de extorsão velada:
    se o interessado não comparecesse com os 17%, os processos
    simplesmente paravam de andar.

    No Rio de Janeiro, a corte portuguesa estava organizada em seis
    grandes setores administrativos – chamados de repartições.
    Os responsáveis por essas repartições passariam para a história
    como símbolos de maracutaia e enriquecimento ilícito. A área de
    compras e os estoques da casa real eram administrados por
    Joaquim José de Azevedo. Bento Maria Targini comandava o
    erário real. Os dois eram muito próximos de Dom João e Carlota
    Joaquina, convivendo na intimidade da família real, o que lhes
    dava poder e influência que iam muito além das suas atribuições
    normais. De seus departamentos saíam a comida, o transporte, o
    conforto e todos os benefícios que sustentavam os milhares de
    dependentes da Corte. Seus amigos tinham tudo. Seus inimigos,
    nada.

    No Brasil, Azevedo enriqueceu tão rapidamente e teve sua
    imagem de tal modo ligada à roubalheira que no retorno de Dom
    João VI, em 1821, foi impedido de desembarcar em Lisboa pelas
    cortes portuguesas. A proibição em nada perturbou sua bem-
    sucedida carreira. Ao contrário. A família continuou enriquecendo
    e prosperando depois da Independência. Em maio de 1823, a
    viajante inglesa Maria Graham foi convidada para a noite do
    espetáculo de gala que celebraria a primeira constituinte do Brasil
    independente. Ao chegar ao teatro, dirigiu-se ao camarote da
    mulher de Azevedo, de quem era amiga, e surpreendeu-se com o
    que viu. A anfitriã estava coberta com diamantes que, na
    estimativa de Graham, valeriam cerca de 150 000 libras
    esterlinas, o equivalente hoje a 34 milhões de reais. Segundo a
    inglesa, na ocasião a mulher também se vangloriou de ter
    deixado guardado em casa outro tanto de jóias de igual valor.

    De origem italiana, Targini era de família pobre e humilde.
    Entrou no serviço público como guarda-livros, um trabalho menor
    na burocracia do governo da colônia. Como era inteligente e
    disciplinado, virou escrevente do erário e logo chegou ao mais
    alto cargo nesta repartição. Com a chegada da realeza ao Brasil,
    passou a acumular poder e honrarias. Encarregado de
    administrar as finanças públicas, o que incluía todos os contratos
    e pagamentos da Corte, enriqueceu rapidamente. Também foi
    proibido de retornar a Portugal com D. João VI, mas continuou a
    levar uma vida tranquila e confortável no Brasil.

    O poder desses dois personagens, Azevedo e Targini, era tão
    grande que, em reconhecimento aos seus serviços, durante o
    governo de Dom João VI ambos foram promovidos de barão a
    visconde. O primeiro tornou-se o Visconde do Rio Seco.

    O segundo, Visconde de São Lourenço. A promoção dos dois
    corruptos fez com que os cariocas, fiéis a sua vocação de
    satirizar até suas próprias desgraças, celebrizassem a
    roubalheira em versos populares:

    “Quem furta pouco é ladrão
    Quem furta muito é barão
    Quem mais furta e esconde
    Passa de barão a visconde”.

    Fica aqui, portanto, a minha sugestão: vamos deixar para lá os
    corruptos da Operação Lava Jato e correr atrás dos larápios do
    Brasil Joanino.

    Cadeia neles!!!

    (A imagem que ilustra esse post retrata a famosa cerimônia do
    Beija-Mão no tempo de Dom João, na qual uma corte corrupta e
    perdulária fazia fila para beijar a mão do rei).

    .

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