A taça do mundo
"Anda praticamente impossível afinar discursos, travar bons diálogos, ou aprender com as opiniões que divergem. Divergir, hoje, significa declarar guerra, abrir represas de ódio e relações de cimento. O mais impressionante é termos princípios tão diferentes e distantes quando o assunto é tortura e crime. Tudo bem que existam opiniões que nunca vão se encontrar, mas não estarmos juntos, de mãos dadas pra cuspir na desumanidade de quem evoca orgulhosamente o nome de um torturador criminoso, sádico, numa votação dentro de um Congresso Nacional é inacreditável. Já tínhamos engolido nomes de netos, filhos precocemente engravatados, babando por aparecer. Selfies inoportunas, rompantes desproporcionais, desrespeitos de toda ordem. O rei dos réus presidindo a sessão já deveria ser ilegal, e, eu pergunto: exaltar assassinos confessos na hora de um voto tão importante para todos não seria também algo que precisa de uma consequência? Esse mesmo sujeito, Jair Voldemort Bolsonaro, exalta também Eduardo Cunha, o cínico dos cínicos, esfrega na nossa cara esse poder sombrio que os une, o poder de tirar o pudor do armário. O pudor de ser uma criatura da lama virou orgulho de repente. Andamos tão enviesados moralmente que, no Brasil, até o diabo pede misericórdia e todos dizem amém"
leia a coluna de ZÉLIA DUNCAN