Eu sou Jéssica
Como uma figura de ficção pôde explicitar tão bem o desassosego na senzala
"Desabusada como ela só, Jéssica suscita inquietação mesmo entre quem a princípio deveria estar a seu lado. Camila esteve num preview para a associação de trabalhadoras domésticas no Rio, ao lado de Karine Teles, que exprime no filme o incômodo equívoco da patroa. A cena da piscina, chocantemente simbólica, fez a plateia popular explodir como se fosse gol em final de campeonato. No entanto, deu também para sentir o mal-estar provocado pelo desembaraço meio petulante da menina entre as Vals ainda acomodadas no quarto dos fundos da ordem estabelecida, por injusto e hipócrita que seja o status quo.
“Teve uma senhora que andava pra lá e pra cá”, lembra Camila, “falava sem parar, não parava na cadeira, estava exaltada”. Depois, percebeu-se que o que a deixara tão atormentada eram os repentes de compaixão que Que Horas Ela Volta? alterna com momentos de conflito. “Na história dela”, conta Camila, “manifestações eventuais de afeto são um intolerável artifício para desprofissionalizar a relação. Contou: ‘A única vez que o patrão me chamou para sentar à mesa foi porque não queria me dar o aumento que pedi’."
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