Professor fala do projeto de ressocialização de jovens infratores que foi o grande vencedor do XI Prêmio Innovare
ADALBERTO TELES MARQUES: Lá os jovens não são chamados de internos ou presos e sim de alunos. Do momento em que acordam até a hora em que vão dormir, a educação é a base de tudo. Nas refeições, sentam-se nas mesmas mesas que os professores e recebem noções, por exemplo, dos nutrientes. Há uma escola, onde estudam das 7h30m às 12h. Das 13h30m às 16h30m, têm oficinas. São 15, como informática, circo, capoeira, pintura. E nas oficinas há sempre um professor: de matemática, português, ciências, geografia, história ou literatura. Assim, na de corte e costura pode-se aprender sobre a roupa usada no Império. Na de dança, sobre o ângulo feito ao se deslocar no salão. Na de futebol, contam-se os passes. Na de robótica, calculam-se os deslocamentos. O currículo escolar está presente em todas as atividades.
O que mais ele tem de diferente das outras unidades do país?
Lá não tem celas nem pavilhões. Os alunos, de 12 a 16 anos, moram em casas. A capacidade é para 72 jovens, e não há superlotação. Eles têm ainda ciclos de leitura, aulas de lego e fazem uma autobiografia, com textos e fotos, refletindo sobre sua trajetória. Pintam quadros e camisetas, vendem e usam o dinheiro ao sair. Eu e o professor de capoeira íamos com 20 alunos numa Kombi a apresentações de luta e de robótica. Uma vez, ao chegarmos, eles me disseram: “Está vendo a porta aberta ali? A gente podia sair correndo, mas não vai porque não poderia sacanear o senhor.” Tem mãe que pede à juíza para deixar o filho mais tempo. E a avaliadora disse a dois meninos: “Posso mandar um relatório ao juiz que vai ajudar você.” Resposta: “Não mande. Não posso sair agora, quero ficar mais um pouco, ainda preciso melhorar.”
leia mais na entrevista para Mauro Ventura
Dois cappuccinos e a conta com Adalberto Teles - Jornal O Globo