José Miguel Wisnik: "Paira sobre tudo a sombra difusa e inquietante do impasse"
A confusão entre interesses coletivos e privados precisa ser levada a sério no debate sobre corrupção no país
"É importante que haja um movimento republicano contra o malbaratamento das instituições, contra o aparelhamento da máquina pública, contra a governabilidade costurada na base dos acertos mais espúrios, contra a apropriação pessoal de recursos públicos por operadores de esquema, contra a conjugação de partidos com altos interesses empresariais cartelizados e contra a denegação sistemática de tudo isso. É ao mesmo tempo parcial, ingênuo em larga escala e nada ingênuo em instâncias bem específicas da política e da mídia que esses atributos sejam encarnados exclusivamente na figura do PT, embora o PT tenha oferecido de bandeja os elementos necessários para essa construção.
Num extremo, uma visão candidamente moralista da política, embora nada inocente, quer encarnar o mal num representante deste, escolhido a caráter, para “purificar” imaginariamente o resto. No outro extremo, uma análise sabida sustenta que a corrupção é inerente ao sistema capitalista, faz parte dele como um dado estrutural que seria ingênuo pretender negar ou superar enquanto persistir o sistema. Não seria errado pensar essas duas visões da corrupção como um emblema religioso do pecado: num caso, ele é purgado através de uma vítima expiatória, através da qual aparentemente se salva o todo; no outro, o mal é universal, o capitalismo está aí no lugar da condição humana, e só é redimido no horizonte messiânico da salvação."
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Analisando - Jornal O Globo