Os silêncios de Robin Williams

" O que assustava em Robin Williams eram os silêncios. Eles vinham de repente, depois de uma saraivada frenética de ideias, palavras e imitações, presas umas às outras por livre associação, pontuadas por vozes diferentes, idiomas diferentes, sotaques diferentes. No tempo que daria para encher um parágrafo de texto, Williams pulava do inglês para o francês, para o alemão, para o espanhol. Transformava-se num motorista de táxi de Nova Jersey, numa garotinha de jardim de infância, num entediado crítico gastronômico, num professor de Oxford. Descrevia uma refeição memorável num bistrô de Paris, sua reação ao ver o filme Doutor Jivago pela primeira vez, como a dramaturgia de Brecht podia mudar a visão de mundo de um ator e como eram os bailinhos com garotas no internato só de meninos onde passara sua infância. “Eu me sentia
E aí, de repente, vinham os silêncios. Williams rangia silenciosamente os dentes, a mandíbula exterior levemente estendida, o olhar perdido nalgum ponto distante além da interlocutora, além da sala, além do prédio, além.
“É muito fácil para mim ser um monte de pessoas ao mesmo tempo – isso evita ao máximo que seja eu mesmo”, ele me diria, em 2002. "
leia a matéria de Ana Maria Bahiana