A ditadura não caducou

Essa desfaçatez com que comandantes militares comparecem à Comissão da Verdade para seus (não)depoimentos, a arrôgancia, o clima de deboche, são muito irritantes.

Eles se permitem esse luxo, essa empáfia, o desfilar de sua impunidade,
por saberem que não são excrescências, exceções caducas que esqueceram de partir, um ou outro alucinado nostálgico desgarrada da noção dos tempos, e sim sintomas de uma história onde as farsas se repetem, tragédias.

Se sabem respaldados. Sentem-se à vontade nu mundo onde suas práticas persistem, mesmo que de modo não institucional. As mentalidades que levaram à ditadura continuam arraigadas no solo do brasil, das solas dos coturnos às gravatas dos soturnos. Fragmentadas em golpes e repressões cotidianas.

Feitores que se imaginam benfeitores. Seus malfeitos anistiados não por leis mas pelo descaso.
Calam-se, mudos, porque o Brasil não muda.

As mesmas gargalhadas que soltavam enquanto torturavam e matavam ecoam pelos sorrisos cínicos com que respondem às perguntas do passado dilacerado:  Nada a declarar. E passam direto pela alfândega do remorso.