Na Trincheira do Humor

Texto para exposiçao organizada por mim e Ana Pinta.
PASQUIM, O RATO QUE RUGE
na trincheira do humor resistindo à ditadura
Por ocasião do 50º aniversário do golpe de 64, esta exposição pretende, através de charges, cartuns e páginas de quadrinhos, rememorar, mais do que os fatos da época da ditadura militar – que se estendeu por 21 anos – o clima de opressão, censura, cerceamento e sofrimento que se abateu sobre o Brasil.
Mas, também – acima de tudo – como artistas e jornalistas resistiram, lutando por seus ideais, informando e denunciando, e desanuviando esse clima com esperanças de mudanças. Cada um combatendo nessa luta desigual com as armas das quais dispunha.
E no caso do jornal PASQUIM essa arma era o Humor. Arma de poderoso calibre, pela comunicabilidade imediata com o público. A sátira é impiedosa e mortal. Desenvolve seus temas por vezes de maneira oblíqua: como piadas inocentes, com o objetivo apenas de fazer rir. Mas gargalhadas desmoralizantes são corrosivas. O riso vai minando e desmontando o discurso autoritário.
O PASQUIM foi criado em 1969 reunindo o que havia de melhor entre o jornalismo e o humorismo da época, além de grandes nomes do meio cultural brasileiro. Muitos buscavam o PASQUIM por não encontrarem espaços onde pudessem se expressar. Por isto o jornal, a princípio humorístico, tornou-se uma das grandes trincheiras contra a repressão da ditadura militar.
Por ser um órgão de equipe pequena, mas com imensa repercussão por todo o país, era chamado de “o rato que ruge”. Com a força do humor, seus guinchos viraram trovões que sacudiam a atenção dos brasileiros. Muitas vezes a ditadura rugiu mais alto: inúmeras matérias foram censuradas, diversas edições apreendidas, seus diretores foram presos. Mas o rato – personificado no seu mascote Sig – saltava daqui, pulava pra lá, e mostrava que tinha mais do que sete vidas.
O sábio ditado afirma: “ri melhor quem ri por último”. A ditadura passou. Deixou seus rastros de estragos.O PASQUIM também passou mas deixou seu legado de resistência, heroísmo e testemunho da eficiência do humor como sobrevivência. Os ditadores e seus acólitos impuseram sucessivos governos, mas, por fim, perderam a guerra. No bonde da historia, os heróis são A Turma do Pasquim.
A maior importância desta exposição é poder existir. Algo que durante a ditadura seria inconcebível. Agora, ao contrário do que a ditadura pretendia, calando e encarcerando vozes, as pessoas podem rir daquilo tudo. As memórias dos tempos de chumbo contém muita dor, mas apesar dos pesares pesados, rir, além de ser o melhor remédio, é também a melhor retribuição.
Como diz o célebre cartum do Ziraldo: “Só doi quando rio”. E o riso nos ajuda também a jamais esquecer. Conviver com o passado, sim. Esquecer, não. Rir, sempre.