Fábula Paquetaense

Fui acertar com uma loja onde venho pendurando contas há tres meses.
(Minha história já começa por aí - um lugar onde se pendura despesas por tres meses... e ninguem te cobra...)

Passei por lá e vi quanto era.
Deixei a bicicleta com as compras do mercado parado na porta da loja e fui ao banco tirar dinheiro.

Saquei 600 reais. Estava de calção, não tinha bolsos, botei as 12 notas de 50 na mão, saí de banco e fui caminhando... foi tão natural que só percebi que estava andando pela rua com um maço de dinheiro na mão quando cheguei na loja.

E pensei: "Em que lugar do Rio eu poderia fazer isto? Em que ponto de uma cidade isto seria possível e natural?"



ps - Isto me deixou feliz e ao mesmo tempo muito triste. Por que o viver de todos não seria assim? Porque a tranquildade, a confiança e o respeito deixaram de ser o cotidiano normal?



pss - Tenho medo de dizer isso. Tenho medo de escrever essas palavras e tudo isso se esvanecer, acabar, esvair, esa vida sumir na poeira de progressos. Ser um delírio inviável, um tempo acabável.
Um findo, que vem vindo...