VIA IRIS: 12 Years a Slave (Steve McQueen, Ing, 2013)
"O HOMEM ESTÁ LIVRE PARA FAZER O QUE QUISER COM SUA PROPRIEDADE."
12 Years a Slave vem comendo pelas beiradas, faturando premios (Golden Globes, BAFTA, AFI, SAG etc) e transformou-se no favorito para o Oscar. E é excelente.
Bruto, real - e lírico - é um dos melhores (senão o melhor) filmes sobre a escravidão, desbancando as palhaçadas de Tarantino ou o edulcorado de Spielberg.
Não só a historia é ótima como também a maneira de contá-la.
Steve McQueen usa algumas vezes planos mais longos que os usuais, para que se ouça o silêncio, para que o barulho dos grilos tome conta de tudo, para prolongar os impactos. Como nas marcantes cena da forca, a cena da carta e na cena do canto dos escravos ao qual Solomon/Platt, após resistir, adere, mas raivoso.
Aliás, que grande interpretação de Chiwetel Ejiofor.
Há um enquadramento interessante que McQueen usa muito: planos abertos, na horizontal (com alguma linha reforçando a horizontalidade) e o personagem principal, um pouco à direita do que seria o central, em pé, cortando a cena na vertical.
O mote, basicamente (além do lado abolicionista-denúncia) é o de como é preciso fazer de tudo, qualquer coisa, para sobreviver. A orquestra esfarrapada na sala do sinhô, com a mulambada dançando para a sua diversão, me lembrou as orquestras de cadavéricos tocando para os carrascos nos campos de concentração.
E no bojo disto uma discussão que é eterna nas resistências: o que é melhor, ficar na sua, se anular, passar o máximo despercebido, para tentar passar por aquilo tudo, ou se revoltar, demandar, mostrar-se gente, para tentar vencer aquilo tudo?