Pedro Dória: É hora de ler Castells
Governantes em todo o país, que não usam as redes sociais em seus cotidianos, estavam igualmente alienados. Há, evidentemente, uma diferença geracional. Mas não apenas: limitar à questão geracional faz parecer que o problema está em algumas pessoas que não usam uma ferramenta de comunicação nova. O fenômeno que chegou na semana passada ao Brasil é muito maior. E mais transformador. Se ganhar escala, a notícia não é boa nem para PSDB, nem para o PT.
Não há uma pauta clara nos protestos. Pertenço à geração que pintou a cara para derrubar um presidente da República. Nós tínhamos um desejo claro que podia ser manifestado em um slogan: Fora Collor. Eles, não. Porque o que os move é uma insatisfação difusa e generalizada. Um não sentir-se representado. A impressão de que as prioridades dos governantes, estejam na situação ou na oposição, não são as suas.
Nas últimas duas décadas, congelados entre a discussão macroeconômica e seus projetos de poder, políticos abriram mão de encarar no Parlamento temas sociais como o casamento gay e o aborto. Temas como as necessárias reformas política e fiscal. O país precisa de uma revolução na infraestrutura de transporte e energia. Saúde e educação não são questões resolvidas. E a classe média, hoje, é maior. Classe média, diferentemente do que sugerem alguns reacionários de esquerda, é quem cobra na sociedade. Não se trata de fazer aqui um discurso anti-político, apenas o de constatar que a política brasileira está inoperante.