Foi-se embora a solenidade do velho Maracanã

"A nova arena (o termo modernoso vai em homenagem aos estetas da tal “evolução” que a tudo pasteuriza) não desperta a salada de emoções que o gigante sessentão impunha a seus visitantes. Acabou o emergir na arquibancada imensa, cheia ou vazia, assustadora – mas ao mesmo tempo a casa hospitaleira dos apaixonados por futebol, onde cada um tinha seu canto, por conveniência ou superstição. Morreu o ato de varrer com os olhos o espaço quase infinito, guardado pelo Cristo Redentor visível além da marquise nas tarde de sol.

 A precisão mercantil do espaço redesenhado por assentos individuais também tornará impossível a explosão do gol, que desembocava no abraço com os desconhecidos fieis da mesma paixão. Levantar hipnotizado, quando o lateral receber em profundidade para cruzar em busca do centroavante, ganhará contornos de acrobacia, no aperto da cadeira – que, ainda por cima, se recolhe sem seu ocupante. Amputou-se da arquibancada sua magia de playground. Virou plateia, como no teatro. Mais prudente permanecer sentado."

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A solenidade que se foi - Aydano André Motta: O Globo: