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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    domingo, janeiro 08, 2012

    Ines Pedrosa: devo às canções do Brasil a minha fé no amor

    Amplify'd frombravonline.abril.com.br
    chicocaetano
    As canções brasileiras – em especial as de Chico e Caetano – contribuíram decisivamente para o amadurecimento afetivo e a emancipação erótica dos portugueses
    só os brasileiros clamam que estão gozando (num gerúndio lento, benza-os Deus) no auge da entrega física. Os portugueses apenas usam o verbo gozar contra alguém. O português é púdico em público e desbragado na intimidade, o brasileiro pelo contrário – genericamente falando, claro.
    a canção brasileira afirmou-se como um programa filosófico que vê o enamoramento como porta de acesso à sabedoria e à afirmação da identidade – pela fusão ou pela sobrevivência à separação. Nunca há o “why she had to go” (“por que ela teve de ir”, trecho da canção Yesterday), mas sempre, e pelo contrário, a lucidez que o encantamento ou a desilusão acendem: o conhecimento pelo sangue, como resposta corajosa e convicta diante de qualquer hipótese de “explicação” lógica ou racional. O seu fascínio reside na falta desse triturador que é “a análise da relação”. A canção inglesa ou norte-americana pressupõe um why – pretende que o amor tenha uma lógica e se desenrole como um western, com índios maus e caubóis valentes. Aquela coisa protestante: razão, culpa e expiação. O brasileiro não: metade das canções de dor-de-corno são listagens de memórias de um passado que se acarinham ou xingam como a um animal doméstico (“não, nada irá neste mundo/ apagar o desenho que temos aqui” ou, sucintamente, “tudo dói”) ; a outra metade são encenações de uma felicidade póstuma e vingativa (“quantos homens me amaram/ bem mais e melhor que você”). E as canções de amor feliz são relatos eróticos, tecidos com a precisão de um relato de futebol.
    As pessoas apaixonam-se pelo amor porque ele é contraditório, desregrado, feliz, desesperado, sôfrego e autocentrado. Impaciente, numa vida cada vez mais orquestrada para a paciência.
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