Via IRIS
Tulpan - Sergei Dvortsevoy (Kazaquistão, 2008)
Viajei para o deserto no interior do Kazaquistão, onde convivi com uma família de pastores de ovelhas, nômades, morando numa tenda atulhada chamada yurt. O irmão da esposa chegou da marinha russa para este imenso vazio que se parece com um mar.
Na vastidão das estepes Dvortsevoy usa cameras na mão e planos longos, onde as ações são improvisadas, para mostrar este relato quasi-documental (seus filmes anteriores são inclusives documentários per se) composto de cenas gravadas durante quatro anos no deserto.
Asa, o cunhado quer se casar com uma garota (que nunca vemos) que o rejeita por ser orelhudo (o que resulta numa participação especial hilariante com o Príncipe Charles). Na verdade, é porque seus olhos estão além do longínquo horizonte. Ela sabe que no deserto o futuro é deserto.
Mas é um futuro que escorre como areia. Um amigo traz revistas de mulher pelada da cidade e ouve Bob Marley bem alto (Rivers of Babylon). Não adianta a menininha gritar mais alto ainda com sua voz esgarniçada canções antigas. As ovelhas nascem mortas. Esta cultura está morrendo.
Grande atuação dos animais, dos nenéns e dos fenomenos da natureza, todos atores dificeis de serem dirigidos. As cenas de parto das ovelhas são de uma tensão bonita (principalmente o plano de 10 minutos onde o próprio ator é parteiro - fazendo até um boca a boca com muco natal e tudo).
Vencedor da mostra Un Certain Regard em Cannes 2008, prêmio do Juri na Mostra de São Paulo, vencedor dos festivais de Tóquio, Zurique e Manila, melhor filme asiático de 2008 e premiado em vários outros festivais internacionais.
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