Sonhos
O calor é pegajoso como o sangue e as tripas e o caldo de carne queimada que gruda na pele e dentro das narinas e os olhos ardem com as imagens dos objetos pulverizados e das pessoas retorcidas em torno da imensa cratera no meio do mercado mais um atentado à bomba e quando o zumbido cessar nos ouvidos vou sentir os gritos o pavor
nao sei quanto tempo vou aguentar mais isso
como é pesado esse uniforme marrom com tantos apetrechos inuteis escudos furados como peneira para as passagens da guerra lá fora a poeira do desespero assentando aqui dentro tento existir como a normalidade de um soldado mas a solda derrete e escorre um gosto de metal líquido constantemente na boca
na sombra do quartel - chamam de área verde mas é arida e cinzenta - escrevo uma carta para casa para meus pais com uma única palavra em meio à folha de papel branca dobrada