Palavras Olímpicas
O
Brasil precisa mudar por dentro. Precisa abolir suas regras surdas –
precisa deixar de achar que conchavo e conversinha resolvem os grandes
problemas. Precisa, em resumo, abolir o malandro. Do futebol à
política, o Brasil valoriza a ginga e o drible. Mas quando um dribla…
outro é driblado. Todo malandro precisa de um otário. E, nesse
particular caso, poucos são malandros, quase 180 milhões são otários.
Então,
é uma proposta singela. Precisamos revogar a lei de Gerson, parar de
acreditar que o jeitinho é legal. É uma diferença sutil - a ginga é
bacana, enganar o próximo não. Devemos endurecer como Che , sem perder
a ternura - pois a ternura é nossa maior identidade. Essa sutileza - a
fronteira entre tolerância e impunidade - é que precisamos
entender. Aprender a punir quem precisa ser punido sem deixar de gostar
de festa - taí nossa missão para os próximos sete anos. Não é tarefa
fácil – pois rebeldia e malandragem fazem parte de nossa identidade há
cinco séculos.
Temos,
pois, sete anos para aproveitar a oportunidade e transformar o Brasil.
Não roubar, e não deixar roubar. Fiscalizar – e se indignar. Participar
– e cobrar. São verbos bonitos hoje – mas chatos quando o tempo passa,
dão trabalho. Se não aprendermos a conjugá-los, se deixarmos pra lá, se
acharmos que é com os outros… é bem possível que tenhamos um belo
evento esportivo daqui a sete anos – como tivemos em 2007. E isso,
obviamente, será perder uma chance única.
É esse o pênalti que o Brasil precisa cobrar. Perdê-lo… será deixar passar o mais encilhado cavalo desta história tropical.
- Gustavo Poli
Marcadores: olimpiadas