Mais Leilota
Coisa de louco
Cartunista que fez História na revista ´Mad´ brasileira vende seus tesouros em leilão
O que parecia impossível aconteceu. Depois de 34 anos à frente da versão brasileira da revista politicamente incorreta “Mad”, o cartunista Otacílio d’Assunção, mais conhecido como Ota, deixou a publicação e faz, hoje, a partir das 18h30m, nas Casas Casadas, em Laranjeiras, um leilão com raridades relativas ao universo adolescente-esquisitão da “Mad” acumuladas durante todo esse tempo. Entre as relíquias estão revistas, originais dele e de 20 outros cartunistas (como Nani, Angeli, Carlos Chagas e Ique), pôsteres, bonequinho feito pelo artista Zé Andrade...
— Queria fazer uma festa para fechar o ciclo, uma cerimônia de exorcismo — explica Ota.
Esse tesouro foi se formando meio por acaso. Além de editor, colaborador e a cara da “Mad” no Brasil, Ota era também o depositário dos artistas desencanados que deixavam seus originais — feitos à mão, com guache em folha de papel vegetal — na sua casa, que durante muito tempo serviu como endereço oficial da publicação.
— Tinha verdadeiras obrasprimas no acervo sem saber — conta Ota, enquanto revira pilhas e mais pilhas de papel. Para se ter uma idéia da dimensão da coisa, esse acervo ocupa dois apartamentos, cada um com 80 metros quadrados, na Praça da Bandeira. Só de encalhes — exemplares que sobraram nas bancas — há dois mil na casa do rapaz que, depois do mascote sardento Alfred E. Newman, foi o nome que mais apareceu na versão brasileira da revista. Foram nada menos do que 300 edições. Desde 1974, quando passou a ser publicada no Brasil, até outubro deste ano, o cartunista e jornalista só deixou de fazer entre os números 92 ao 103 das edições nacionais.
Tanto as obras de artistas quanto as peças divertidas que estarão à venda foram selecionados a dedo. A escolha das peças começou em setembro e só vai terminar às 18h29m, um minuto antes de o evento começar. Serão 60 lotes, entre R$ 1,99 e R$ 500. As opções vão desde um rolo de papel higiênico temático (R$ 1,99, o lance inicial) a caricaturas de gente como Paulo Coelho e Delfim Netto (a partir de R$ 300), passando por um original do “Relatório Ota” (R$ 49,99). — Cada vez que abro uma caixa, encontro uma coisa melhor para entrar no leilão. Não acaba nunca — diz Ota, confessando que o processo de seleção não foi simples. — Está sendo uma tortura. Entre seus itens preferidos está uma edição especial que tinha uma contra-capa sobre papel reciclado. Para chegar ao resultado que queria, o artista juntou diversas embalagens de produtos e de revistas para simular a reciclagem e resolveu colar uma barata, de verdade, no original, para dar a impressão de que tudo (mesmo) se recicla.
— O dono do fotolito veio pessoalmente dizer que se recusava a escanear aquilo. Poxa, e me deu o maior trabalho arrumar uma barata para colocar ali — diverte-se. Hoje, a revista, que já chegou a ter uma tiragem de 200 mil exemplares, vende cerca de oito mil unidades por mês. Ota acredita que a brincadeira ficou cara para o público-alvo, entre 11 e 14 anos de idade, custando quase R$ 6. Sem romantismo, ele sabe que a revista é uma besteira — no melhor sentido da palavra —, e que assim que o adolescente arruma uma namorada ou coisa melhor para fazer, deixa a “Mad” de lado. E não é só isso.
Antes, os gibis e o cinema eram as únicas diversões acessíveis a esse público; agora, a realidade mudou. Tem videogame, internet, DVD...
— O adolescente de hoje prefere baixar tudo na internet e gastar seu pouco dinheiro com outras coisas — resigna-se.
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