Aterrisando
Estou ha dias e dias (67 dias) sem ler jornais ou ouvir noticiários
mergulhado no espaço profundo da galáxias dos traços
só tenho olhos e ouvidos e sentidos para desenhos
(e a montagem destes desenhos, e diagramação de desenhos, e escolha de desenhos - desenhos e obras semelhantes)
só tenho pensado e vivido a realização do salão carioca de humor por estes dias.
Um evento tão grandioso para uma equipe tão pequena, para um tempo tão curto, para conjurar exposições & concursos& ciclos de peças & esquetes & catálogo & livro & palestras & divulgação na imprensa & convidados & mais exposições &...
Eu nem sabia que o Imperador vinha visitar a província! Hoje - exposições inauguradas, pós-pepinos das exposições resolvidas - hoje à noite, aterrisando de volta num fim de semana onde poderei dormir mais de tres horas por noite, onde poderei embarcar na barca e cruzar águas ouvindo músicas - nossa, não são só as notícias, não tenho ouvido música! não tenho visto filmes! só tenho lido textos relativos ao salão!
- passei os olhos pela primeira página de um jornal (e mesmo assim porque saiu coluna falando da abertura do evento) e vi que Bush também aterrisava no Brasil.
Vim pensando: grande parte das pessoas vivem assim. À margem do noticiário. Alheios ao real e antenados no pessoal. Nós (eu e pessoas como a mim) é que temos essa obsessão de acompanhar o que acontece além de nosso círculo, de procurar se informar, de saber. Mas o que? Sobre o que? Quando se distancia é que se percebe: o quanto disso interessa?
Perscrutamos o dia a dia e não vemos a floresta prestando atenção nas árvores.
Mas sei que a partir de amanhã voltarei a decifrar as entrelinhas de cada folha
de jornal ou inflexão de notícia para acompanhar "o que está acontecendo"
(ou o que me passam como estando acontecendo)
como uma imensa novela global (de globo, não de Globo) escrita por um manoel-carlos em cima da hora.
Não dá tempo dos atores decorarem as falas e a encenação dá toda errada e, por fim, cansado de tantas reviravoltas inconsequentes ou encheção de tempo sem sentido, revivirei a vontade de mandar esse enredo do planeta às favas.