QUARENTINHA
Comemora-se ontem e hoje os quarenta anos do golpe de 64.
As pessoas não falam, nem sabem, que essa guerra começou na verdade, um dia antes, em 30 de março, em pontos do país como o Nordeste ou o interior de Minas.
Quando citam que não houve derramamento de sangue é porque viviam nas metrópoles porque no interior houve muita gente trucidada e massacrada pelas forças golpistas, ou por jagunços se aproveitando do clima de levante.
No Nordeste os movimentos de base campesinos comandados por Julião resistiram sim ao Golpe e houve confrontos armados. Claro, nada comparável à resistência popular insurrecta imaginada pelos esquerdistas sonhadores.
E em Governador Valadares, cidade onde eu morava em 64, com 10 anos de idade, também antes, em 30 de março, já havia batalhas campais em curso. Hordas de jagunços e soldados do exército enfrentavam camponeses armados e entocados em terras invadidas.
Havia um movimento do campo forte na região de GV, comandado por outra figura lendária da miha infância que era o Chicão.
O populacho tinha cooperativas organizadas, com postos médicos, escolas, etc e já havia iniciado suas proprias reformas de base ocupando diversas fazendas improdutivas. (Se hoje isso tanto arrepia latifundiários, imagine naquela época!)
A milícia armada dos grandes fazendeiros e as forças da repressão, sabendo que sua hora em ia chegar em breve (talvez até soubessem o dia exato) não aguentaram esperar e no dia 30 de março de 1964 entraram nessas terras tomadas e nos acampamentos e saíram derrubando moradias e centro comunitários e expulsando as pessoas, arrastando e matando gente.
Houve resistência armada. Foram batalhas que duraram tres ou quatro dias, e enquanto no resto do país o golpe militar se auto-proclamava a Redentora, em GV em tresde abril ainda haviam lutas.
Os milicos venceram, eram mais, tinham equipamentos e tinham grana (como veremos no post abaixo).
Todos os líderes ou supostamente líderes do movimento foram fuzilados.
A maioria dos latifúndios em torno de Governador Valadares subsiste até hoje.
O povo ali agora não pensa em ter sua própria terra mas em sair clandestino para a America na ilusão de forrar o bucho de dólares.