SONHOS
Sonhei que eu era jornalista política e tive que entrevistar o Lula. A tudo que eu perguntava ele respondia com platitudes e evasivas. Na verdade, eu era um jornalista do próprio esquema, não sei se era algo ligado à assessoria de imprensa ou não, mas fiquei com aquela maçaroca de texto e tinha que transformar aquilo numa coisa linear e num pronunciamento que fosse simpático ao Lula, demonstrando que realmente ele pretendia fazer alguma coisa de concreto pra mudar esse país.
De jornalista virei ator shakespeariano. Encenei uma peça grandiosa, com falas terríveis. Num teatro antigo, lotado de pessoas. Eu estava rouco e à medida que a peça prosseguia minha voz quebrava e falhava, acompanhando a propria desagregação do personagem. Terminei a última fala num sussurro, emitido por uma garganta ardida e em ruínas.
A platéia estava recheada com os figurões de Brasília, inclusive os luminares desse novo governo petista. Dirigi minhas falas diretamente a cada um, conforme as circunstâncias do texto.
Deu o maior rolo.