SONHOS
Quando o onibus passou por dentro de Belo Horizonte e catou o meio-fio da praça eu percebi que o motorista dirigia muito mal.
Quando começamos a subir a serra e o onibus derrapava nas curvas fiquei ainda mais preocupado. Os outros passageiros dormiam. Me lembrei que na parada eu tinha visto o motorista bebendo cerveja num canto do restaurante gelado e sombrio e tinha estranhado.
Zigue-zagueando na pista montanhosa, isso não podia continuar. Levantei e tentei acordar outros passageiros pra que tomássemos uma providência. Ninguem se mexia. Aí aconteceu: numa curva apertada o onibus girou e tombou. Como eu estava em pé, fora do banco, fui espirrado pra fora do onibus e me arrebentei.
Todo machucado, no asfalto, ninguem também me socorria. Finalmente, me arrastaram de volta pra condução e me jogaram lá dentro.
A viagem seguiu. Na madrugada, fui me arrastando pelo corredor até a cabine do motorista. Levou muito tempo. Estava aberta. Entrei. Ele não estava ao volante. O onibus seguia sozinho, por conta prõpria. Seu motorista ressonava num canto da cabine, longe do volante, do acelerador, do freio, das marchas.
Gritei e gritei eu queria descer nao ia mais continuar naquele onibus!
O onibus parou e me jogaram pra fora (desconfio que com um certo prazer).
O dia amanhecendo e eu no acostamento da estrada sem poder me mexer, esperando passar alguem.
O que será que aconteceu com aquele onibus, eu pensava enquanto esperava. Acordei pensando que deve ter rolado por alguma ribanceira e todos morreram. Eu sobrevivi.