PENTEANDO MACACOS
A invasão começou na quarta-feira à noite pela TV com duas webcams ligadas sobre Bagdá e dezenas de comentaristas em várias estações aguardando um bombardeio arrasador que não chegava.
Uma duas horas depois, as primeiras explosões, todas longe das webcams, que mostrava ruas noturnas, esverdeadas, onde passavam devagar carros e alguns ônibus. Ouvia-se sirenes, gemidos tétricos, mas os carros continuavam passando pelas imagens das webcams e os comentaristas e analistas e jornalistas preenchiam a noite com um falatório de previsões na falta de notiícias.
Na imagem de uma mesquita, amanhecia um céu azul.
As multimilionárias CNN, Fox, BBC e outras siglas tinham seus batalhões a postos mas foi a pequena RTP quem capturou as primeiras imagens de guerra mesmo, com bombas ribombando em Bagdá.
Foi um furo mundial sem deixar de ser uma transmissão lusitana: o jornalista, Carlos Fino, se agachava a cada vez que uma bomba explodia em Bagdá.
Agora o bombardeio é constante e as câmeras mostram incêndios por toda a beira do Tigre e tropas avançam Iraque adentro, com repórteres tagarelas embutidos nos batalhões e os fatos são muitos para se acompanhar
mas lembrarei sempre daquelas primeiras horas de suspense e apreensão e embromação da mídia televisiva.
E dos breves e gratificantes instantes em que compartilhamos, sem querer, da intimidade com o poder
nas imagens mais importantes e reveladores do início desta invasão:
cortaram para Washington e o imperador estava nu.
Recitava para si mesmo o texto que leria em breve, tentando socar algum conteúdo naquelas palavras, enquanto acólitos ajeitavam seus cabelos, já que ninguém consegue ajeitar a sua cabeça.
Ele dava pulinhos, ele abria e fechava os punhos, tentando pegar os neurônios no tranco.
E foi assim que a invasão começou.