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quinta-feira, maio 12, 2016

Enquanto isso, no Canadá...


De ALEXANDRE INAGAKI

É difícil governar um país que tem 35 (TRINTA E CINCO) partidos políticos, sendo que a maioria dessas legendas foi criada com fins meramente fisiológicos. Se você quer aprovar leis e reformas e ter um mínimo de governabilidade, inevitavelmente terá de negociar com esse pessoal, e o resultado são ministérios loteados e repletos de gente que só vira ministro porque é preciso buscar assegurar mais votos no Congresso. O absolutamente tenebroso ministério montado por Dilma durante seu segundo mandato, que incluiu pafúncios como George Hilton nos Esportes, Aldo Rebelo em Ciências e Tecnologia e o patético Marcelo Castro na Saúde, mostrou isso (embora nada justifique o fato de Dilma ter insistido tanto em Guido Mantega e Nelson Barbosa para comandarem a economia brasileira, mas enfim, nada que surpreenda em um governo que foi tão medíocre).

Michel Temer, que também precisará acomodar muitas nulidades no ministério, já está sentindo o drama que é precisar arranjar lugares para dezenas de indicações desses partidecos. E é muito melancólico constatar que Temer não nomeou até agora nenhuma mulher em seu ministério, algo que o Brasil não via desde os tempos de Ernesto Geisel na Presidência. E não é questão de "preencher cotas", muito pelo contrário: o que não faltam são mulheres credenciadíssimas para ocupar esses cargos. Imaginem, por exemplo, o impacto positivo que Temer causaria se ele nomeasse Suzana Herculano-Houzel (neurocientista que está prestes a deixar o Brasil por falta de condições de trabalho por aqui) para um Ministério da Ciência e Tecnologia. Ou Viviane Senna para a pasta da Educação. Até mesmo entre os partidos que formam a coalizão de apoio a Temer há nomes bem mais razoáveis que os pré-indicados Alexandre de Moraes, Marcos Pereira ou Leonardo Picciani; vide Mara Gabrilli, Simone Tebet, Ana Amélia. Ou seja, como se não bastasse ter sido conduzido à Presidência em um processo pra lá de nebuloso, o governo Temer começa equivocado também na formação do ministério. E não só em termos de gêneros, já que tampouco vi diversidade racial e de crenças entre os ministros a serem anunciados, evidenciando uma falta de visão e de vontade política a um eleitorado cada vez mais cético com os governantes deste país.

Enquanto isso, no Canadá Justin Trudeau formou um ministério com metade de mulheres e metade de homens. E, que, de quebra, inclui dois ministros de povos nativos, como o chefe indígena Hunter Tootoo (enquanto no Brasil Belo Monte está causando um etnocídio indígena), um refugiado muçulmano (Amarjeet Sohi, na pasta da Infraestrutura), uma atleta paralímpica e dois nomes que são confessadamente ateus. E não, não foram indicações para simplesmente preencher cotas: todos são experts em suas respectivas áreas (vide perfis aqui em http://www.theglobeandmail.com/…/the-trude…/article27095965/) e compõem um ministério capaz de refletir a rica diversidade social e nacional de sua nação. Alguma coincidência com o Brasil?

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