Roda de samba, exibição de filme e mostra de desenhos lembram a versatilidade artística do ilustrador Redi
Multimídia muito tempo antes desse termo cair na boca do povo, o cartunista Redi (Sylvio Redinger) passou boa parte da vida focando seu olhar em múltiplas artes. Tocava percussão e outros instrumentos. Gostava de pintura e rabiscava desenhos mais artísticos - no ano passado chegou a inaugurar uma exposição em Nova York. Na cozinha também se virava muito bem, orgulhando-se dos pães que fazia depois de estágios em restaurantes como o Garcia & Rodrigues. Fez participações especialíssimas como ator e trabalhou como redator de humor (escreveu para programas da Rede Globo e para o "Pasquim", inclusive).
Essa versatilidade do cartunista carioca morto na última sexta-feira vai surgir aqui e ali, a partir do fim do mês, nas homenagens a Redi confirmadas por amigos e parentes.
Logo depois do carnaval, na sexta-feira, dia 27, a turma de batuqueiros com a qual ele costumava tocar no Planetário da Gávea abre as celebrações. A roda de samba dos Torresmos e Moelas será dedicada a Redi.
Homenagem logo no começo do Salão de Humor
- Em Nova York, ele participou profissionalmente de shows em bares, tocando percussão e até acompanhando nomes como Cláudio Roditi e Cyro Baptista - conta Débora, viúva do cartunista.
Depois do samba, Redi será festejado por aquele talento que o tornou célebre tanto aqui - onde começou a sua carreira mas também nunca deixou de trabalhar - como em Nova York, onde, entre outras coisas, foi ilustrador do "New York Times". No dia 1 de março, na abertura da 15 edição do Salão Carioca de Humor, ele será lembrado com uma exposição na Casa França-Brasil e com a exibição do curta-metragem "Isso é problema seu", que fez com o cartunista Nani, nos anos 70, no qual surge na tela como ator.
- É um filme com o melhor humor carioca, nonsense - diz o cartunista Chico Caruso, que ainda recorda alguns trechos da fita. - Lembro do Redi caminhando pela Rio Branco carregando o próprio caixão.
Outro projeto de homenagem vem do irmão do artista. A proposta de Luiz Redinger é, junto com a viúva, remexer o acervo de Redi para fazer uma exposição retrospectiva com os desenhos de quatro décadas. Estarão lá a charge assinada por ele para a primeira página do "New York Times" - que é citada na carta do jornal para o Serviço de Imigração dos Estados Unidos pedindo o green card para Redi (veja ao lado) - e as ilustrações da época em que ele fazia parte da histórica equipe do "Pasquim", na década de 70, e até trabalhos recentes, como uma encomenda da TV Vanguarda (Einstein fazendo o V).
- Lembro que ele chegou na redação do "Pasquim" acanhado, mostrou-me os desenhos e disse o nome dele, Sylvio Redinger. Eu o contratei, mas disse que era melhor que ele mudasse de nome para Redi. A partir daí, ele se tornou o autor dos nossos cartuns mais engraçados, desenhos simples, mas com muita personalidade - diz o cartunista Ziraldo.
- Redi servia de ator para as fotonovelas do "Pasquim". Ele era um falso tímido que adorava divertir todo mundo na redação fazendo mágica. E olha que a concorrência ali era grande porque só tinha gente muito engraçada como Henfil, Jaguar e Millôr - completa o pintor Caulos.