SãO PAULO - Horácio Verbitsky, notável jornalista argentino, escreveu faz tempo um livro chamado "La Educación Presidencial". Conta, na essência, como presidentes da República podem ser cercados, cooptados e "educados" pelo que os argentinos gostam de chamar de "poderes fácticos" (quem realmente manda) até ficarem completamente desossados.
É óbvio que é muito cedo para se suspeitar que Luiz Inácio Lula da Silva venha a se tornar vítima dessa mesma máquina de moer políticos. Mas o primeiro indício preocupante já está dado, na forma como o presidente eleito se submeteu, desde domingo, à Rede Globo de Televisão.
A Globo repetiu com ele a babação de ovo que já fizera com Tancredo Neves, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, para citar apenas os mais recentes. Até aí, faz parte, primeiro, do instinto básico da rede e, segundo, de seu marketing.
O problema começa quando Lula se rende a um e a outro. Não faz o menor sentido quem se proclama "presidente de todos os brasileiros" não ser também "presidente de todas as emissoras de televisão".
Já nem menciono jornal, porque entendo que TV seja o veículo preferencial do marketing de um político, qualquer que seja o político. Desconfio que haja, nessa exclusividade para a Globo, uma falha grave de entendimento da função: presidentes da República, eleitos ou no exercício do cargo, devem satisfações ao público em geral, não apenas ao público da rede que evita perguntas que não sejam bolas levantadas para a cabeçada do entrevistado.
Espero que a opção preferencial pela Globo, desde a eleição, seja apenas deslumbramento com a bajulação inerente ao poder recém-adquirido. Seria trágico se já fosse a primeira aula do curso de "educación presidencial". Sabe-se como terminam os presidentes que a Globo bajula quando se elegem.