Em depoimento dado ao Museu da Televisão Brasileira, em 1998, ele contou sua história. Quando tinha dois anos, com um pedaço de carvão, rabiscou todas as paredes brancas de sua casa. Levou uma surra da mãe por isso. E do pai, ganhou um caderno e um lápis. Assim, Borjalo começou a desenhar. Quando jovem, foi trabalhar na Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, fazendo desenhos de mapas para o governo. Torcedor do clube Vila Nova, um dia, para brincar com um colega que torcia pelo Atlético, fez uma charge brincando com os adversários. O desenho acabou parando na redação da “Folha de Minas” e foi publicado. Imediatamente foi contratado.
Aos 24 anos, trocou as charges esportivas na “Folha” pelas políticas no “Diário de Minas”. Logo começou a se interessar também pelo cartum, outro tipo de humor no papel. Com o pseudônimo Barroca Filho, vendia seus cartuns para a “Folha de Minas”. Aos 35 anos, veio para o Rio trabalhar na revista “Manchete”. Também passou pelas revistas “O Cruzeiro” e “A Cigarra”.
A graça, leveza e cinismo de seus traços provocaram algumas polêmicas.
— No auge da campanha O petróleo é nosso, quase levei a revista (”Manchete“) à falência, com um desenho que retratava um enorme caminhão-tanque da Petrobras se abastecendo num posto Shell. Foi um escândalo. O Banco do Brasil cortou as contas com a revista, executou títulos. Na época, o Adolpho Bloch (dono da ”Manchete“) disse: ‘Você me deixou no preto, estou devendo a todo mundo, mas que a charge era engraçada, era” — contou Borjalo em uma entrevista.
Seus desenhos foram para o exterior e ganharam as páginas do “Picture Post” de Londres, do “Paris Match” da França, de “Epoca” de Milão. Mas, no fim de década de 50, trocou jornais e revistas pela televisão. Logo começou a dirigir programas e coordenar equipes de arte. Passou pela TV Excelsior, TV Itacolomy e TV Rio, até chegar à TV Globo. Na Itacolomy fez um programa que foi praticamente a base para o “Fantástico”, que seria lançado anos mais tarde pela TV Globo. Ña Globo, foi o braço-direito de Boni e, como diretor-geral de Programação, esteve sempre envolvido na evolução da emissora. Ficou na Globo por vinte anos. Seu último cargo foi de assessor na Central Globo de Criação.
— Ele foi o mais poético desenhista, que resolveu trocar o desenho pela televisão. E a TV tem essa força hoje por ele ter sido um dos pioneiros — diz Chico Caruso.
Seus desenhos, que mais tarde ganharam movimento graças à computação gráfica, animavam o divertido “Jornal da verdade”, nos primeiros tempos da Globo.
“Foram de Borjalo os primeiros bonecos que apareceram no vídeo ainda em preto-e-branco”, lembrou Otto Lara Resende no prefácio do último livro de Borjalo, “O caçador de borboletas”.
Num momento de crise, Borjalo começou a beber. Foi um período difícil e ele se internou. Recuperou-se, procurou a si mesmo e reencontrou. Com isso reecontrou também o desenho. Foi quando fez o “Reencontro”, desenho que é um verdadeiro edifício, com mais de mil personagens e que lhe devolveu o prazer de desenhar.
Quando perguntado sobre o que era, Borjalo respondia: “Sou um galho de árvore. Tenho até medo de acordar com meu dedo brotando. Em Teresópolis, onde moro, já plantei 186 árvores. É junto à natureza, que sou inteiramente feliz”.
Borjalo morreu ontem, de câncer e será cremado. De seu primeiro casamento teve dois filhos. Atualmente estava casado com Cristina. Hoje, ao meio-dia, será realizada uma cerimônia restrita à família e aos amigos no Crematório do Caju.