Até agora, a PF não sugeriu o tipo de crime que haveria na expectativa de compra de um dossiê de informações
A maior
originalidade do "caso dossiê" está
em ser um inquérito de Polícia Federal e Procuradoria da República que
precisaria ser submetido a um inquérito de Polícia Federal e Procuradoria da República, para desvendar alguns procedimentos do primeiro.
Já no seu compasso inicial houve a
dispensa do flagrante, sempre procurado pelas polícias, do pagamento e
recebimento do dossiê em hotel paulistano. Por que? O flagrante foi substituído pela conexão entre PF de
Cuiabá e um delegado da PF, em
coincidente plantão, para fazer no
hotel duas prisões sem ilícito definido. Até agora, a PF não sugeriu o crime que haveria na expectativa de
compra de um dossiê de informações, mesmo que com propósitos
eventualmente eleitorais. O mistério
da origem do dinheiro, que até agora
a PF também não conseguiu caracterizar como criminosa, só apareceu
depois das duas prisões no hotel. Por
que tal operação em lugar do flagrante, admitindo-se a hipótese de motivo para fazê-lo?
Antes de qualquer investigação da
PF ou da Procuradoria da República,
o procurador em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, deu entrevistas com
a insinuação inequívoca de que o dinheiro apreendido procedia do governo. Não indicou pista alguma nesse sentido. Que motivos o levaram à
grave insinuação, assim como a outras entrevistas que deu?
Desde que fez as prisões no hotel
paulistano, o delegado da PF Edmilson Pereira Bruno manteve-se próximo de repórteres, inclusive dentro
da PF em dias de sua folga, com contribuições ao noticiário fermentativo. Não tardou a distribuir, para um
grupo de repórteres, jogos de fotos
das pilhas impressionantes de dinheiro apreendido. Mentiu para fazê-las, passando-se por delegado do
inquérito. Mentiu aos superiores na
PF, negando a autoria da distribuição. Identificado como único possível autor das fotos e da distribuição,
mentiu ao dizer que o fizera para
proteger-se "de uma armadilha",
porque furtaram de sua mesa um dos
três CDs com as fotos. Mas "O Globo", presente à distribuição, deixou
discreto registro de que, já ao fazê-la,
o delegado Edmilson Bruno "disse
que iria reportar a sua chefia que o
CD entregue aos jornalistas havia sido furtado: "Isso aqui (o CD) alguém
roubou e deu para vocês. O que vai
parecer? Que alguém roubou [da
mesa dele] e vazou na imprensa'".
Por que isso tudo?
Desde os primeiros depoimentos de Luis Antônio Vedoin, o empresário Abel Pereira é apontado como intermediário de altas liberações de verba da corrupção da Saúde, quando ministro, em 2002, Barjas Negri. O delegado Diógenes Curado, da PF em Cuiabá, proporciona notícias diárias de convocações de Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini para depoimentos. Até hoje não tomou depoimento de Abel Pereira, nem o procurador Mário Lúcio Avelar o fez. Por que não, se Abel Pereira tem até
o agravante de outras ligações, inclusive financeiras, com negócios dos
Vedoin?
Nada disso sugere ou nega obra do
PSDB, nem exclui ou confirma outra
ópera do PT. Serve, porém, como introdução a muitas estranhezas e obscuridades que PF e Procuradoria da
República mais criam do que dissolvem e explicam.