Solda é um desenhista veterano (com quase 40 anos de profissão) e figura de proa na cena cultural curitibana.
A propósito da vinda de Obama ao Brasil, publicou no jornal O Estado do Paraná a seguinte charge:
(clique na imagem para ampliar)]
Dias depois, foi demitido do jornal, onde colabora desde 2005, após reações indignadas de um público que vira na charge uma discriminação racial contra o presidente americano Obama.
É interessante notar que a grita começou depois que a charge foi alçada a um alcance nacional através de sua republicação no blog Conversa Afinada, de Paulo Henrique Amorim. Induzida inclusive pelo próprio Amorim que já colocou a charge ali como sendo racista.
Algo semelhante ao que aconteceu com Nani, que publicou no seu blog, normalmente, uma charge da Dilma rodando bolsinha. Quando a charge foi republicada pelo Noblat (nesse caso, em adjetivações), veio a revolta das mulheres contra um "machista que achava que todas as mulheres são putas". (Por falar nisso, oferecer cargos em troca de apoio, para mim, é "mais" do que oferecer o corpo em troca de dinheiro, pois afinal o corpo é seu mesmo...)
Mas o que eu queria escrever com o exemplo do Nani é que em ambos os casos os desenhos foram retirados do seu contexto - e da sua continuidade dentro do universo do autor - e isolados dentro de um outro contexto (onde a imensa maioria dos leitores desconhece o autor e suas posições verdadeiras).
Algumas considerações minhas:
1. Não entendi como o macaco seria o Obama.
O macaco está dando uma banana; Por que Obama daria uma banana, se veio justamente puxar o saco dos brasileiros (em troca de...) ? É evidente que o macaco está dando uma banana (com o gesto típico) para o Obama. O macaco então é o povo brasileiro. Ou quem estivesse no almoço, diante das propostas do governo americano. Ou o próprio Solda, indignado com o chefão do império. .
2. Se Solda quisesse que o macaco fosse o Obama teria pelo menos desenhado o macaco parecido com o Obama, não é mesmo? Quem acha esse macaco parecido com o Obama ou não enxerga direito um desenho ou acha que os negros são mesmo todos parecidos (e com macacos).
3. Para mim racistas são que os que automaticamente presumem que um macaco desenhado numa charge refere-se a um negro!
4. Quem se desse à pachorra de pesquisar quem é o Solda antes de esculhambá-lo (e pesquisar na internet agora é fácil) descobriria não só suas posições quanto veria que esse mesmo macaco é personagem recorrente em suas charges (em charges, aliás, que nada tem a ver com Obama ou com os negros como raça).
5. Bem, nós sabemos que as pessoas hoje em dia estão emburrecendo. E estão histéricas com o politicorreto, ou nas defesas (às vezes até justificadas, na maioria das vezes não) de sua valorização. Agora, a atitude da direção do jornal foi escrota.
Por mais que hajam uivos junto aos portões, Solda fazia parte da equipe do jornal e como tal deveria ter sido defendido pelo Estado do Paranál, que, como jornal, supostamente está a favor da liberdade de expressão (mesmo que discordasse do teor da charge).
Mas aí é que está: o jornal publicou a charge. Logo (na figura de seu editor ou o responsável pela publicação) não viu problemas terríveis nela. E, sendo assim, deveria ter a hombridade de defender a sua própria decisão e por conseguinte o chargista por tantos anos figurante na empresa.
Ou ter publicado uma matéria a respeito, ouvindo as acusações de racismo e também o próprio Solda, e aproveitando, caso quisesse, toda a celeuma para realmente discutir a questão do racismo no Brasil. E no Paraná.
Mas preferiu o mais fácil, e sobrou para o mais fraco. Solda foi demitido. Obama voltou para sua guerra na Líbia. O governo brasileiro continua com suas macaquices.. E os negros continuam sendo discriminados de maneiras realmente cruéis, sem que se ouça tanta gritaria.