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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

  • Vislumbres

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    segunda-feira, março 31, 2008

    Gláuber Rocha é uma merda?

    A idolatria incondicional é comum entre adolescentes, e fãs fanáticos,
    alguns dos quais crescem mantendo a adoração adulativa intacta por seus ídolos.
    imãs imantados de imortalidade.

    De artistas, criadores, espíritos irrequietos (ou que deveriam ser)
    não se espera tal postura
    da hagiografia dogmática de outros colegas artistas
    elevados a eleitos sacrossantos.

    Foi ridícula portanto a ira santa
    promovida entre alguns intelectuais diante da afirmativa jocosa-iconoclasta do humorista Marcelo Madureira,
    que mandou num debate público num cinema:
    - Gláuber Rocha é uma merda!

    Para terem idéia do ridículo dos doi-dóis,
    leiam o artigo abaixo publicado em O Globo
    (que logo pinçou a frase e a promoveu a outro patamar, com destaques, à guisa de polemiza):


    Glauber no ventilador


    Diretores comentam e respondem frase polêmica de Marcelo Madureira sobre cineasta, que será lembrado em ato de desagravo hoje na ABI

    - Leonardo Lichote

    ‘Glauber Rocha é uma merda”. A frase, dita por Marcelo Madureira há alguns dias num debate sobre humor no Cine Odeon e reproduzida aqui no GLOBO na coluna de Ancelmo Gois, não foi recebida com risos por admiradores do diretor. Procurados pelo GLOBO para dar sua opinião a respeito da declaração, cineastas, contemporâneos do baiano ou jovens, rebateram as palavras do “Seu Casseta”. A família do diretor decide se vai ou não processar Madureira. E uma sessão de “Deus e o diabo na terra do sol” em desagravo a Glauber será realizada hoje, às 18h30m, na Associação Brasileira de Imprensa.

    — Espero que alguém vá — provocou Madureira, antes de desenvolver sua opinião sobre o cineasta. — Não disse que Glauber é uma merda, e sim que seus filmes são. Com exceção de “Di”, acho todos muito chatos, assim como quase todo o Cinema Novo, em geral filmes mal editados, mal filmados, que nem os cineastas entendiam. Mas gostava muito da pessoa dele, sua atuação como intelectual, acho “Abertura” (vanguardista programa de TV apresentado por Glauber em 1979 e 1980) sensacional, tenho alguns gravados. Essa é apenas minha modesta opinião, podem concordar ou não. Foi uma provocação também. Afinal estava num debate, queria me animar

    Para Cacá, houve um erro no tom

     Organizador do ato de desagravo, o crítico de cinema Dejean Magno Pellegrin, amigo de Glauber, acredita que não poderia simplesmente aceitar o que ele considerou uma ofensa ao cineasta: — As pessoas não podem dizer o que querem e ficar por isso mesmo. Daqui a pouco alguém fala que Niemeyer é uma merda. Mas o ato é a favor de Glauber, não é contra ninguém. Não citarei o nome desse respeitoso intelectual — diz. — Não é à toa que ele tem dois Ms no nome. Na mesma linha, o diretor Cláudio Assis ataca: — Ele falou isso para promover o “Casseta e Planeta”, isso sim uma merda. Quer aparecer como inteligente, mas não é ninguém. Não sou desses que acham que Glauber é Deus, mas ele morto é mil vezes mais vivo que Marcelo.

    Madureira, que conta estar recebendo solidariedade das pessoas nas ruas por sua frase, diz não se surpreender com a reação de Assis: — Ah, quem gosta de “Amarelo manga” (de Assis) gosta de Glauber. Esse filme também é um saco, a única coisa boa é Matheus Nachtergaele. Assis não passa de mais um desses beletristas nordestinos Amenizando a temperatura do debate, Cacá Diegues diz que Madureira errou no tom: — Todo mundo tem o direito de ter a opinião que bem entender sobre Glauber. Mas expressá-la desse modo é um desrespeito infantil e uma agressão desnecessária. Mas Madureira é um humorista, não é para ser levado a sério, pois não é possível que ele não saiba da importância do Cinema Novo e mais especialmente de Glauber para os cinemas modernos do Brasil e do mundo.

    Madureira não vê essa importância no Cinema Novo. A consagração do movimento veio, nas palavras do humorista, “graças a intelectuais europeus que viram ali algo exótico”. Os intelectuais brasileiros teriam embarcado deslumbrados. Lembrando que acompanhou Glauber numa defesa de tese sobre sua obra em Sorbonne (“Roland Barthes estava na banca”), o cinemanovista Paulo Cézar Saraceni diz que o diretor “deveria receber bustos, homenagens, e não palavras como essas”. O cineasta seria, portanto, intocável? Nas falas dos diretores, frases como a de Saraceni — ou “o valor da obra dele não está em questão” (Bruno Safadi, cineasta-revelação que diz se espelhar em Glauber, entre outros) e “(Glauber) é bom e pronto, isso é consagrado” (Cláudio Assis) — sugerem que sim. Mas todos eles são unânimes em afirmar que o baiano pode sim ser contestado, mas com respeito — o que, apontam, faltou nas palavras do humorista. Alguns vão mais longe e chegam a desautorizar a opinião de Madureira. — Para criticar Glauber, é necessário que se tenha dado alguma contribuição à cultura brasileira — argumenta Pellegrin. — Se Ferreira Gullar dissesse algo assim, o que nunca aconteceria, seria outra coisa

    Madureira diz que Glauber o apoiaria

     A sessão de desagravo tem o apoio de cineastas como Diegues (“Ainda bem que existem cinéfilos como Dejean, dispostos a contestar o equívoco, embora Glauber não precise de nenhuma reparação para sobreviver a uma afirmação tão desastrada”, argumenta). Para outros, porém, a resposta parece um tanto exagerada. — Ele falou de um papa, de forma grosseira, e isso chama atenção. Mas não se deve criar tanta histeria em torno disso — pondera Safadi. — Os filmes de Glauber estão aí para serem adorados e criticados. Ele não queria que sua obra fosse unânime. Em meio ao debate, os dois lados cogitam como o baiano reagiria. Pellegrin defende que “Glauber quebraria ele”. Já o humorista acredita que teria seu apoio: — Quando Glauber falou que Golbery era um gênio, os intelectuais também o atacaram — lembra.


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    Pelo direito de falar merda

    Eu ia escrever algo sobre alguns dos comentários acima,
    inclusive sobre essa necessidade arcaica de "sessões de desagravo"

    quando li na sexta o artigo de Arnaldo Bloch em O Globo
    pinçando e comentando alguns desses não-me-toques.


    Arnaldo Bloch

    Deus Glauber e seus infiéis
    Em defesa do direito de falar merda

    Muitas verdades foram reivindicadas na polêmica entre Marcelo Madureira (da Casseta) e os fiéis de Glauber Rocha. Dessas verdades, apenas uma é absoluta: ao dizer que os filmes de Glauber são “uma merda”, Madureira falou “merda” — evidência que a sentença encerra.

    De resto, é só uma grande mancha de dúvidas. Por exemplo: será que a “merda” que Madureira falou (no sentido de tê-la, palavra, na boca) é também “merda” no sentido de opinião irrisória, errada, falsa, feia, exagerada, proibida? A julgar por afirmações publicadas quinta-feira neste caderno, uma nuvem de moralismo (e até reacionarismo) se alevanta no céu da inteligência cinematográfica.

    Coitado do repórter Leonardo Lichote por certas coisas que teve que ouvir e transcrever. Apesar de achar todos os filmes de Glauber ótimos, bem feitos e vibrantes, vejo-me na obrigação de prestar solidariedade ao Madureira, com intento exclusivo de defender as liberdades fundamentais. Para tal, analiso, abaixo, os dizeres da tropa de elite, a começar pelo crítico Dejean Magno Pellegrin: “As pessoas não podem dizer o que querem e ficar por isso mesmo. Daqui a pouco alguém fala que Niemeyer é uma merda”.

    Então, qual a pena para quem disser que Niemeyer é uma merda? Masmorra? Um processo de U$ 100 milhões por perdas e danos? Conheço quem já tenha escrito bobagens sobre Niemeyer que superam qualquer palavrão. Niemeyer vive dizendo, com essas palavras, que Bauhaus é uma merda. Mas vejam o que proferiu o mesmo Pellegrin, a seguir: “Para criticar Glauber é necessário que se tenha dado alguma contribuição à cultura brasileira. Se Ferreira Gullar dissesse algo assim, o que nunca aconteceria, seria outra coisa”.

    Ou seja, só poetas e seres iluminados, ou prestadores de contribuições formais incontestes à cultura brasileira, podem criticar Glauber. Minha faxineira não pode achar Glauber uma merda. Nem gostar: pois, quem não pode criticar, não pode entender. E quem não pode entender, não pode gostar.

    Atento às medidas, Cacá Diegues, por sua vez, viu em Madureira um ‘erro no tom’ (qual o ‘tom certo’?) e decifrou suas palavras à luz do humorismo. “Não é para ser levado a sério, pois não é possível que Madureira não saiba da importância do Cinema Novo e (de Glauber) para os cinemas modernos do Brasil e do mundo”. A importância de Glauber e do Cinema Novo (movimento do qual Cacá é oriundo) pode até apresentar suas evidências entre profissionais, crítica e público afeito mundo afora — ou nas influências que gerou —, mas isso não tem qualquer relação com o Madureira achar seus filmes bons ou ruins. Cacilda, é tão óbvio! E não torna o que ele disse mais ou menos “sério” — num plano em que o humor seja considerado, com seriedade, em sua dinâmica e dramaturgia.

    Mas vamos às loas do Paulo Cézar Saraceni: “Glauber deveria receber bustos, homenagens e não palavras como essas”. Ô Saraceni!, quem mais do que Glauber recebe bustos e homenagens? Entre os mortos, é uma das maiores unanimidades críticas! Se vacilar, o Madureira é o primeiro a macular o mito sem prestar-lhe os devidos incensos. Imagine, Saraceni, se todos pensarem como o seu colega Cláudio Assis, que diz: “Glauber é bom e pronto, isso é consagrado.” “Bom e pronto”? Que tipo de reflexão crítica é essa? Em que contexto esta relação se estabelece? No âmbito do “consagrado”? Tem muita merda por aí que é consagrada. Quem mais é “bom e pronto”? Outra do Assis: “Ele falou isso para promover o Casseta e Planeta, isso sim uma merda” Então o Madureira, pessoa física, diz que o Glauber é uma merda, e a Casseta, automaticamente, é uma merda. Qualquer semelhança com “chato bobo e feio é você” terá sido mera infantilidade. O que o finado Bussunda (consagradíssimo...) tem a ver com isso? O Bussunda é “bom e pronto”? Enquanto escrevo esta crônica, rola, lá na ABI, uma sessão de “Deus e o Diabo” em desagravo a Glauber.

    A família está pensando em processar. Putz! Desagravo? Até os padres e rabinos dizem que em algum momento brigamos com Deus e dizemos injúrias! Blasfemar faz parte do jogo! Esse negócio de desagravo e processo está com a maior cara de TFP. De guerra santa contra as charges de Maomé. De picuinha de técnicos e jogadores com o chororô do Souza. O que será que Glauber acharia desse desagravo? Sim, pois se Glauber é uma divindade, é uma divindade da alta iconoclastia. Acho que ele expulsaria, aos brados, os inquisidores, mandando-os queimar vaidades noutra freguesia.

    E os julgaria infiéis. E, ao Madureira, faria coroar portaestandarte dos cineastas, críticos, humoristas, das faxineiras, do cronista — enfim, de todos os homens e mulheres livres. Livres para falar merda.


    Só vou comentar mais duas coisinhas.
    Me admira aqui Cacá Diegues, que tanto bradou em seu tempo contra "patrulhas ideológicas".

    E a opinião semântica de Luke Bosshard:
    Marcelo disse "Gláuber Rocha é uma merda".
    Referia-se portanto à sua obra, ou à figura (persona, nao a pessoa).
    Se tivesse dito "Gláuber Rocha é um merda"
    isto sim seria embostear a pessoa referida.

    adendo:
    Ana Pinta pediu para inclui duas opiniões
    João Gilberto é uma merda
    Tarantino é uma merda

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    sábado, março 29, 2008

    Charges do Tibet





    LEITE




    AMORIM


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    sexta-feira, março 28, 2008

    Qual é o seu papel no mundo?

    Chega de uma vida em preto e branco! (ou marrom e branco)

    Conheça o
    Wellbeing World
    viva num mundo mais, extremamente, colorido!

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    segunda-feira, março 24, 2008

    Charge de aniversário



    AMORIM

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    domingo, março 23, 2008

    Charge Pascoalina




    ORLANDELLI


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    Palavras: Tostão

    O futebol é reflexo da nossa sociedade, na qual gestos de bondade e ternura são cada vez mais raros.
    - Tostão



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    sábado, março 22, 2008

    Charge de Páscoa




    JEAN

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    Um album de retratos antigos

    Um album de retratos antigos.
    Como tantos outros, mostra um grupo de jovens e adultos se divertindo,
    tomando sol em espreguiçadeiras, dançando ao som de acordeons, e
    fazendo palhaçadas para a camera.
    Numa foto, a decoração para uma festinha de Natal.

    Mas é um album horripilante.
    Não pelas fotografas em si, mas pelo local onde foram tiradas e o imenso contraste, o abismo, a fenda profunda entre as cenas focadas e o que se passava ao seu redor.

    O album de fotografias é de um alemão chamado Karl Hoecker, um dos comandantes-adjuntos no campo de concentração de Auschwitz. Foram tiradas entre maio de 1944 e janeiro de 1945, quando a máquina de matanças de Auschwitz estava no auge.
    Os fornos cremátorios, que eliminavam 132 mil pessoas por mes (12 pessoas por minuto), não davam conta da demanda.
    Fora os que definhavam à mingua mortífera antes mesmo de entrarem no gás.

    Mas não estão ali as tradicionais imagens de cadáveres ambulantes ou valas de defuntos empilhados. São pessoas normais nas folgas de um emprego qualquer.
    Retrata-se os soldados e as secretárias, as datilógrafas, os salões sociais e os recantos bucólicos em torno de Auschwitz.

    Pelas fotos, realmente, o Holocausto não acontecia. E pelo seu contraste são das coisas mais contundentes a sair daquele inferno.

    O album apareceu no ano passado e algumas de suas imagens podem ser vistas aqui.



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    sexta-feira, março 21, 2008

    Charge da Paixão



    HUMBERTO

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    Palavras: Crumb


    Primeiro deixei as anfetaminas, depois o ácido, os baseados, o álcool e, finalmente, a América.

    - Robert Crumb


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    terça-feira, março 18, 2008

    Charge made in china



    THOMATE


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    Papo Crumb

    Como é raro Robert Crumb falar com jornalistas e outros elementos do mundo exterior,
    reproduzo aqui a materia publicada em El País e que saiu este domingo no caderno Mais da Folha:

    Gato pingado

    CRIADOR DE FRITZ, THE CAT, O AMERICANO ROBERT CRUMB COMENTA A VIDA RECLUSA QUE LEVA NO INTERIOR DA FRANÇA E FALA DE DROGAS E DE SUA REINVENÇÃO DO GÊNESE

    IKER SEISDEDOS

    O anúncio de que já passou da hora do jantar encontra Robert Crumb, nome lendário dos quadrinhos underground, sentado, muito atento, murmurando uma melodia e balançando-se com as mãos nos joelhos. Já faz uns 30 segundos que o alto-falante monofônico cospe a sujeira acumulada durante 80 anos nos sulcos da belíssima canção "Lost Child", gravada pelos irmãos Stripling no Estado do Alabama, nos rurais anos 1920.
    Qualquer pessoa que saiba algo sobre Crumb já imaginará que a canção, que ele próprio escolheu com suas mãos recém-lavadas entre sua coleção de 5.000 discos raros de 78 rpms, terá que terminar antes que o mundo moderno possa continuar seu caminho.
    Se dependesse dele, o resto da vida poderia ser passada assim: ao lado do velho amplificador de válvulas. Absorto na música e soltando frases como: "A morte me preocupa menos do que me preocupava antigamente. Agora que a vejo de perto, não encontro razões para passar o dia me lamentando, me sentindo infeliz ou aflito".
    Algo assim só poderia estar acontecendo em Crumbland, uma casa de pedra situada à margem do rio, com sete pisos abarrotados de coisas belas e tendo como única concessão à tecnologia uma máquina Xerox arcaica.

    Colinas e vinhedos
    De suas janelas, se tem uma vista de Sauve e dos vinhedos que cercam esse povoado medieval agarrado às colinas da região francesa do Languedoc Roussillon, como um dos personagens mirrados de Crumb se agarraria ao corpo de uma mulherona.
    Foi para cá que o universo Crumb completo se mudou em 1990, vindo da Califórnia. Os discos, as canetas hidrográficas Rapidograph e os míticos personagens: o gato Fritz, Mr. Natural, o enxerido Flakey Foont e as muito reais Aline Kominsky, sua mulher, e Sophie, filha e desenhista, como seu pai e sua mãe.
    Além de, é claro, o próprio Robert Crumb (nascido na Filadélfia, em 1943), que, graças a seus quadrinhos autobiográficos, se tornou um dos arquétipos mais conhecidos da HQ mundial. E um dos mais inacessíveis.
    Há o Crumb pervertido sexual, o Mr. Sixties, herói e flagelo da contracultura, e o neurótico de família disfuncional que Terry Zwigoff retratou num documentário perturbador.
    O inimigo das feministas, "o desenhista mais amado da América", a inspiração de sucessos do cinema independente, como "Anti-Herói Americano", e o velho amargurado que, perto do final de "R. Crumb -Handbook" (R. Crumb - Manual, MQ Publications, 440 págs., 15 libras, R$ 51, Reino Unido), escreve: "Minha própria condição consiste em odiar o que sou".

    Vida underground
    São sua mulher, Aline, e o fiel amigo e co-autor do livro, Peter Poplaski, outro expatriado americano, artista por profissão, que recebem o convidado.
    Crumb detesta qualquer encontro marcado para falar de temas pessoais previamente pautados (ou seja, qualquer entrevista). E não é brincadeira: circulam em Sauve histórias sobre jornalistas vindos de Los Angeles que voltaram para o lugar de onde tinham vindo depois de três dias de tentativas infrutíferas de aproximação.
    Na sexta-feira passada, tive sorte. Perto do final da tarde, Crumb não achou má idéia jantar com o grupo depois de um dia passado trabalhando sobre sua mais recente e ambiciosa obra, uma HQ sobre o "Gênese", e de lhe ser informado, por Aline, que o jornalista parecia "um ser humano decente".
    Vendo-o aparecer, percebe-se que a imagem legendária de ermitão não é uma pose falsa. Crumb é um tímido rematado que se encurva, magro, se esconde atrás dos óculos e tem ar de quem conheceu mais pessoas do que teria desejado.
    Mais tarde, à mesa de um restaurante vietnamita da cidadezinha vizinha, ele explica: "Não vejo que interesse há em falar comigo. É muito melhor falar com Aline. Me perguntam: "Por que vocês se mudaram para a França?". E eu digo: "Não sei.
    Aline, por que o fizemos?'". Em sua condição de notária de tudo o que diz respeito a Crumb, Aline já me fizera um "relatório" à tarde no estúdio de seu marido, uma sala diabolicamente organizada, de paredes forradas de quadros, capas de discos de blues e bonecos alienígenas.
    Durante cerca de quatro horas, Aline e Peter Poplaski tinham repassado a vida de Crumb. Desde sua infância na Filadélfia, como filho do meio de cinco irmãos, filhos de um fuzileiro naval e de uma "maluca", até o surgimento em San Francisco, no final dos anos 1960, dos quadrinhos underground, gênero do qual Crumb se erigiria em expoente maior, "convertendo-se em alguém em quem, de repente, as mulheres prestavam atenção".

    "Predestinados"

    De como seus desenhos são tremendamente valorizados num mercado de arte que Crumb e sua mulher desprezam ("fechamos um pacto com o diabo para ganhar uma fortuna", admite Aline), até a razão pela qual Robert coleciona apenas discos lançados entre 1926 e 1932. Desde o candidato em quem ele pensa apoiar nas próximas eleições americanas (democrata, ainda não se decidiu por Hillary ou Obama) até o dia em que Aline conheceu Robert.
    "Alguém me disse "você precisa conhecê-lo -parece um de seus personagens'", recorda Aline. "Apesar de ele ter mulher e namorada, parecíamos predestinados. Ele pôs meu sobrenome, Kominsky, numa garota, em um de seus gibis, antes de nos conhecermos."
    O tempo não fez mais que acentuar a semelhança entre ela e os sonhos de Crumb: essas mulheres grandes, de músculos torneados e bíceps avantajados que Robert sempre procurou obsessivamente. Inclusive hoje, quando Aline se aproxima dos 60 anos e, na região em que vivem, é mais conhecida como professora de ginástica e pilates do que como artista.

    Marido e mulher
    Na época, ela também desenhava quadrinhos underground. E sentia o mesmo impulso biográfico que Crumb para escancarar suas intimidades, como em pouco tempo ficou claro com um volume ao qual deram o título de "Dirty Laundry" (Roupa Suja, 1976).
    Com ele, inaugurou-se um gênero em que cada um se representava, por seu lado, em vinhetas baseadas em fatos reais (vinhetas essas que ainda são publicadas regularmente na "New Yorker"). "Não há muito o que fazer com relação a nossa falta de vergonha", admite Aline. "É como dizer ao mundo: sou asqueroso, horrível, faço coisas censuráveis... Você ainda me quer?"
    Depois de mais de 30 anos de sinceridade absoluta, Robert e Aline Crumb, me diz em sua voz grave Aline, fabulosa contadora de histórias, "ainda nos fazemos rir um ao outro" e ainda se tratam de maneira tão afetuosa quanto brincalhona.
    "Me diga, Robert", pergunta Aline durante o jantar, "o LSD afetou seu traço nos anos 1960?". "Sim, é claro", ele responde. "Tomei umas 15 vezes, depois desisti. Primeiro deixei as anfetaminas, depois o ácido, os baseados, o álcool e, finalmente, a América."
    A voz de Crumb se movimenta em freqüências baixas, entre ironias e encolhimentos dos ombros. "A razão pela qual odeio dar entrevistas é que deixo tudo sair e fico vazio", ele tinha dito, antes de revelar as entrelinhas do contrato firmado para seu projeto mais recente, uma recriação literal do livro bíblico do "Gênese".
    "Me ofereceram US$ 200 mil [cerca de R$ 341 mil], que pareciam uma dinheirama. Três anos de trabalhos forçados depois, já não parece tanto dinheiro assim." Crumb já tem prontas cerca de 120 páginas em que recria passagens bíblicas com um grau de detalhes nunca antes visto em sua obra.
    Para isso, todos os dias ele deixa sua casa para ir a um estúdio nas proximidades, cuja localização até mesmo seus amigos desconhecem. Encerra-se ali e passa horas desenhando. Diz que precisa ficar recluso para concluir sua "obra mais ambiciosa". Num esconderijo que, depois de muito procurar, encontrou na propriedade de uma cidadã inglesa da região.



    Reviravoltas
    Numa reviravolta mais própria de Paul Auster [romancista norte-americano], descobriu-se que a proprietária da casa fizera seu doutorado em Oxford sobre o "Gênese" e se chamava Arabella Crumb (o casal a conheceu porque ela freqüentemente recebia a correspondência deles por engano).
    "Acho que o resultado não vai agradar a ninguém", diz o autor. "Os judeus vão odiar que dei um rosto a Deus; os cristãos, que as pessoas saiam transando e coisas desse tipo."
    O casal Crumb espera que dessa controvérsia plausível saia um sucesso editorial que lhes permita compensá-los pelo negócio que deveria ter sido e nunca foi a edição inglesa de "R. Crumb - Manual". Fruto de meses de conversas entre Poplaski e Crumb, o livro foi editado em 2005 por "alguns amigos" e lançado com grande mobilização da mídia.
    Poplaski e os Crumb fizeram uma turnê promocional sem precedentes à qual um jornal inglês dedicou dezenas de páginas. As críticas foram excelentes, e a estilista Stella McCartney organizou grandes festas de lançamento em Londres e Nova York, cidade em que, diante de uma biblioteca pública lotada de pessoas, Crumb teve um diálogo com o respeitado crítico de arte Robert Hughes (que freqüentemente compara seu xará a artistas da estatura de Bruege, o pintor flamengo do século 16).
    Depois de tudo isso (que Crumb concordou em fazer com a boa vontade com que um vegetariano devoraria um javali), os editores se declararam falidos. E desapareceram. "Não nos pagaram nem sequer o adiantamento", explica o co-autor Poplaski. "Acreditamos que venderam 120 mil exemplares, o que é um recorde para um livro de Robert."
    Será preciso esperar até outro dia para obter uma declaração irada do desenhista sobre esse assunto. Ele sempre parece ter outras coisas na cabeça. Ou será a mesma o tempo todo?
    Quando a noite chega ao fim, o mundo parece aliar-se para gerar um episódio inequivocamente crumbiano. No fundo de uns copinhos de saquê, aparece a imagem ousada de uma asiática nua. Diante da qual Robert exclama: "Opa! Desta aqui se vê o matagal todo!".


    Este texto foi publicado no "El País". Tradução de Clara Allain

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    segunda-feira, março 03, 2008



    O site da revista Mother Jones - veiculo da contracultura desde os anos 70 - abre com um especial de várias matérias sobre Abu Ghraib e torturas diversas praticadas pelas forças do Império Americano.
    Rola entrevista com um torturador e até um streaming com o playlist das músicas mais tocadas (a TODO VOLUME) nas sessões de tortura e desorientação em Guantánamo.

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    Como gostar de Garfield

    Garfield
    aquela tira famosa com o gatinho
    é meio mais ou menos né não?
    Ainda mais quando se está do lado de alguem que adoooooora aquele bicho
    e recita suas platitudes sobre segunda-feiras e pizzas e preguiças gordas....

    Mas o pessoal da revista alternativa Arthur, em seu blog,
    descobriu que Garfield na verdade é uma tira em quadrinhos genial.
    Sério.

    Basta voce tirar o Garfield das tiras do Garfield.
    Vejam como ficam interessantes:










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    Páginas passadas do rock

    Para quem é crítico, pesquisador ou fanático por rock
    (ou mesmo um interessado com tempo)
    descobri uma mina:

    o site chamado

    com (segundo eles) mais de 12 mil artigos (entrevistas, críticas, reportagens e tal) musicais.
    Digitalizaram coleções completas de praticamente todas as grandes, melhores e mais interessantes revistas de rock (de língua inglesa) desde as clássicas como RS. Mojo, Spin, NME, Melody Maker, Vox, até udigrudis como Creem, Crawdaddy e Zig-Zag e modernos como Addicted to Noise e Paste (além do que sai sobre rock na imprensa comum).

    Tem que assinar (pago) pra ir fundo no arquivo mas é uma viagem nao só pela historia do rock como pela historia da imprensa roqueira (sim, voce pode ler praticamente tudo que Lester Bangs escreveu).

    Me lembro quando eu escrevia as biografias da série Rock, a Historia e a Gloria publicadas pelo Jornal de Música - uma pesquisa intensa que ocupava dias e noites e papéis e recortes de toda espécie - e eram os anos 70, com a escassez de informações internacionais por aqui - revirando coleções minhas e de colegas sintonizados como Ana Maria Bahiana

    se eu tivesse um site como este para pesquisar...
    em que mundo maravilhoso vivemos agora!!

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    e o blog0news continua…
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    Mas uso mesmo é o

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